sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ANALISE: Army of Two: The 40th Day PS3 XBOX360



Relativamente nova no mercado, a série "Army of Two", uma criação da Electronic Arts explorando o elemento cooperativo, retorna após uma satisfatória estreia. A primeira vertente, lançada em 2008, foi longe de ser impecável, mas conseguia oferecer enredo e gameplay sólidos, e por isso mereceu alguns elogios. Entre os defeitos mais visíveis estavam uma IA muitas vezes falha, principalmente a do seu parceiro, e assim parte boa da experiência ficava praticamente exclusiva ao cooperativo com um amigo. Não que não houvesse como se entreter jogando sozinho, mas a diferença, como é comum de acontecer em casos como esse, era enorme. Army of Two: The 40th Day chegou com a chance de eliminar esses problemas, e muito embora não faça exatamente isso, traz algumas novidades na bagagem que indiscutivelmente o tornam bem superior e mais "corpudo" que o primeiro.

Salem e Rios, a dupla de mercenários original e seus respectivos estereótipos "mais jovem" e "fortão", estão de volta, assim como seu contato, Alice, todos ainda trabalhando para uma corporação militar privada. Um pouco mais distante do Oriente, onde ambos se envolveram em missões perigosas, a dupla está agora em Xangai. O jogo começa mostrando a maior cidade da China segundos antes de um ataque militar que a deixa em frangalhos, destruindo distritos e, claro, matando centenas ou milhares de pessoas. Logo após tamanha calamidade, a história regride e mostra a mesma cidade, quando a dupla chega, dias antes do atentado. A partir daí, o jogador seguirá os eventos e será apresentado a uma grande conspiração.

A história de "Army of Two: The 40th Day" é bem escrita, e o modo como é retratada nas sequências do jogo, bastante plausível. Entre tiroteios e salvamentos, o jogador testemunhará, principalmente, a cidade aos poucos sendo arruinada, com grandes construções vindo abaixo. O nível de realismo é bacana, embora os objetos sendo destruídos sejam mais simples, tais quais as partes arruinadas dos cenários, que alternam entre trechos bem detalhados e trabalhados, e outros nem tanto. Os modelos dos personagens estão fantásticos, mas como de costume eles estão muito acima dos demais participantes da história, incluindo Alice. Uma pena também que haja muito serrilhamento nos contornos – parece que tiveram de desligar o anti-aliasing em prol de uma melhor performance. Se for, valeu a pena, pois o jogo roda perfeito em todas as partes.

"Army of Two: The 40th Day" envolve uma gameplay, como diz a própria produtora, 100% voltada para cooperação em dupla. Isso significa que não se deve ignorar seu companheiro, já que ele será fundamental de uma forma ou de outra durante as missões. Primeiramente, quando um dos dois é abatido, o outro deve, em uma questão de segundos, revitalizá-lo com uma "injeção milagrosa" (que só existe nos videogames, claro). Caso isso não seja feito, é game over, independente de haver ou não inimigos na tela.

Em segundo lugar, há o sistema de Aggro, elemento particular da série que é parte fundamental da gameplay a dois. Enquanto um atira nos inimigos e, com isso, chama a atenção para si (ganhando a coloração laranja), o outro pode flanquear e pegar os oponentes de guarda aberta (esse estará na cor azul). Quem vai fazer o que pode ser definido através de ordens dadas ao companheiro. Você pode ordenar, por exemplo, que ele fique onde está (enquanto você resolve tudo sozinho), se posicione defensivamente e ofereça mais suporte. Por fim, você pode mandá-lo resolver as coisas quase que sozinho, defrontando oponentes e assim oferecendo a abertura mencionada. Não são muitas opções, mas elas são cruciais em certas passagens.

Uma das maiores reclamações na primeira edição era a IA do seu parceiro, que às vezes era suicida, tanto no sentido ofensivo quanto na hora de ajudar você quando abatido. O que acontecia era uma falta de senso de preservação pessoal, com ele ignorando rajadas de tiros para ajudar você. Agora, a IA está mais precisa, tendo consciência de que primeiro ele deve abater os agressores para poder salvá-lo. Outro fator positivo é que agora será mais incomum situações em que você precisará salvar seu companheiro, algo que só deve ocorrer com mais frequência contra oponentes mais cascudos, considerados subchefes de fase.

Infelizmente, isso também ocorre porque os próprios oponentes não estão lá essas coisas. Há vezes em que eles se prendem tanto ao elemento Aggro, atirando em quem está "laranja", que eles simplesmente ignoram completamente o outro adversário, mesmo estando ele à sua frente. Eles também são incapazes de agir decentemente contra um oponente provido de um escudo – gastam munições e munições e mal atingem-no, mesmo estando muito próximos. Raramente flanqueiam, e às vezes ainda se expõem. Enfim, eles só oferecerão dificuldade se os jogadores decidirem fazer as coisas sozinhos e avançarem inadvertidamente – nesse caso, eles causarão um grande estrago. Ou ainda dentro de alguns contextos no jogo, como quando eles estão ameaçando reféns.

Army of Two: The 40th Day oferece alguns elementos diferenciados em sua gameplay que o separa um pouco dos shooters convencionais. Primeiramente existem os testes de caráter, onde os jogadores serão colocados diante de escolhas controversas, e até polêmicas. Como dissemos em nossa análise da versão PSP, a primeira delas envolve apagar ou não o militar que recebe e ajuda a dupla na primeira missão em Shangai. Após as referidas escolhas, o jogo mostra algo após na vida do personagem envolvido, e, curiosamente, às vezes isso faz o jogador se sentir bem ou se arrepender profundamente, independente do caráter da decisão. Não podemos contar mais, pois estragaria uma parte que consideramos interessante do jogo, ainda mais que elas ocorrem com pouca, porém satisfatória frequência.

Outro fator tido como extra em Army of Two: The 40th Day são as missões de resgate de reféns. Todas elas são paralelas, ou seja, não são necessárias para a conclusão dos objetivos, mas salvar chineses inocentes capturados no decorrer das missões lhe renderá crédito com a população local e financeiro. Inicialmente, salvá-los é uma tarefa fácil, envolvendo a divisão de alvos com seu parceiro – cada um cuida de um, ao mesmo tempo, de forma que não haja reação e todos se salvem. Mais para frente, porém, haverá situações mais complicadas, e será preciso usar um pouco de estratégia, observando as posições de cada um no GPS. Primeiramente, quando houver três ou mais soldados inimigos, é preciso verificar, na hora da apresentação da cena, qual deles é o chefe, ou seja, o da maior patente. Por que? Porque se você se esgueirar por trás dele e conseguir fazê-lo de refém, todo o grupo se renderá. Capturar um soldado raso dessa forma só funciona se os outros forem de mesma patente – se houver um sargento, ele não vai se render, e abrirá fogo contra todos. A estratégia às vezes envolve agir rápido, pois se a melhor chance passar, ela não vai se repetir. O tempo é contra, e se o jogador demorar a tomar a decisão, eles executarão os reféns.

O problema nesse ponto é que na maioria dos casos, essas missões não ocorrem logo após um checkpoint. Isso gera uma repetição mais longa no caso de falha, e em algumas delas as falhas serão inevitáveis. Houve uma missão, por exemplo, onde tentamos de todas as formas usar a divisão de alvos, mas Rios se negava a aceitar informando que precisava de uma posição melhor para atirar. Só que não havia nada na nossa frente, e ele se distanciava até ficar atrás de uma caixa, informando logo a seguir que não dava para atirar dali. Só conseguimos resolver dez tentativas depois, com a captura dos elementos.

Por fim, há momentos em que o jogo permite você se "render". Ao baixar sua arma e obedecer os inimigos, você ganha tempo e chama a atenção para si, enquanto seu parceiro pode aproveitar a situação e abrir fogo. Enfim, há vários elementos em "Army of Two: The 40th Day" que praticamente forçam o jogador a agir em conjunto, ressaltando a cooperação. Além disso, se você quiser tirar uma "chinfra" com seu amigo, pode desafiá-lo para um emocionante pedra, papel e tesoura. Sem dúvida, somente Rios e Salem poderiam parar para jogar entre tiroteios mortais.

O dinheiro adquirido nas missões, incluindo de salvamento de reféns, serve para melhorar e comprar novas armas, equipamentos e mais. Seu personagem carrega até três armas (uma pistola, um fuzil ou metralhadora ou espingarda, e uma sniper), e pode, ainda por cima, pegar qualquer arma deixada pelos inimigos, sem precisar trocar pelas suas. Os upgrades das armas alteram de tudo desde precisão e potência até Aggro – uma Ak-47 dourada certamente chama mais a atenção do que uma convencional.

Apesar da IA de seu parceiro ser muito mais eficaz que a do primeiro, não há como se comparar à experiência quando se joga cooperativamente com um amigo. Seja em tela dividida na vertical ou online, o modo a dois de "Army of Two: The 40th Day" oferece muito mais diversão, principalmente se houver entrosamento entre ambos. Isso não se aplica, claro, quando o parceiro for um tal de Vinha, cuja IA é inferior. Houve uma missão em que ele era incapaz de dar a volta em um inimigo para pegá-lo por trás, sempre atacando antes do tempo e atirando no lugar errado. Conclusão: morremos NOVE vezes no mesmo lugar, ainda que trocando-o de função. Quando tentamos com a CPU, passamos na segunda tentativa. Não é possível um jogador entrar e sair a qualquer momento do jogo, mas a campanha para um pode ser reiniciada com um ou dois jogadores, após carregar o save game do último checkpoint.

Sem inventar o be-a-bá, "Army of Two: The 40th Day" oferece uma dose imensa de ação e catástrofe, com sequências cinematográficas. Com uma gameplay voltada para o cooperativo a dois, o jogo se difere bastante dos shooters convencionais, e oferece uma dupla bastante carismática. As decisões de caráter e salvamento de reféns, embora opcionais, acrescentam um pouco mais de tempero, e até desafios. Claro, existem defeitos, como a IA dos inimigos que nem sempre funciona de maneira eficiente. Ainda assim, as melhorias dessa segunda versão são significativas com relação à primeira, mostrando que a produção está no caminho certo e que, principalmente, Salem e Rios vieram para ficar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário