segunda-feira, 17 de maio de 2010

ANALISE: Blazblue Calamity Trigger Portable PSP



Lançado originalmente em 2008 para os arcades japoneses e americanos na placa Taito Type X2 (a mesma e Street Fighter IV e The King of Fighters: Maximum Impact), BlazBlue: Calamity Trigger funciona como uma espécie de ''sucessor espiritual'' da série Guilty Gear. Não é para menos, já que a série é desenvolvida pela Arc System Works, a mesma produtora da famosa franquia de jogos de luta e, por isso, carrega uma série de características do seu antecessor. Apesar disso, não podemos afirmar que BlazBlue é apenas um clone de Guilty Gear, graças a um trabalho criativo que o estúdio fez para justamente distanciar um produto do outro, apesar dos dois jogos dividirem o mesmo universo. Não espere encontrar o mesmo tipo de jogabilidade ou personagens tão similares aqui. Os únicos elementos que podem lembrar de Guilty Gear são a trilha sonora pauleira e a arte de menus e outras firulas.

Tudo começou em 1998, quando o ex-designer da SNK Daisuke Ishiwatari resolveu lançar seu próprio jogo, exclusivamente no PlayStation. A ideia original de Guilty Gear é exclusiva de Daisuke, que escreveu o roteiro do game, compôs a trilha sonora, desenhou os personagens e até mesmo cedeu sua voz para a dublagem de Sol Badguy. O sucesso do game foi grande, tanto que gerou uma série de continuações e uma quantidade absurda de atualizações, como o jogo de nome esdrúxulo Guilty Gear XX Λ Core Plus. As principais características da série eram o visual animê, as lutas frenéticas e a trilha sonora com o mais puro rock and roll. Apesar do sucesso, Daisuke provavelmente sentiu que deveria seguir em frente e trabalhar em algo novo, nasceu então BlazBlue.

Como já citamos, a história de BlazBlue: Calamity Trigger se passa no mesmo universo de Guilty Gear, 10 anos depois dos eventos de Guilty Gear XX, em dezembro de 2199. Antes dos acontecimentos desta data, porém, a humanidade estava à beira da extinção por conta da Black Beast, uma criatura das trevas que assolava a Terra. O mundo foi salvo por seis heróis que ajudaram a humanidade a criar a técnica ''Armagus'', uma fusão de mágica e tecnologia, eficaz para derrotar a besta. Após a batalha, a organização Novus Orbis Librarium (também conhecida como Library ou NOL) foi criada para governar o mundo com o uso da Armagus. Com isso, um grande caos foi gerado em todo o mundo pela própria NOL, parcialmente por conta do uso de Armagus em todas as classes da sociedade e pela diferença entre as pessoas que podiam e que não podiam utilizá-la. O mundo dividido gerou a guerra civil de Ikaruga, onde a Ikaruga Union, formada por rebeldes, batalharam contra a Library pelo controle da Armagus. Após a guerra, a Library impôs sua autoridade sobre o mundo de forma dura, punindo com a morte qualquer rebelde contra seus princípios.

Voltando a dezembro de 2199, anos depois da guerra civil de Ikaruga, uma parte da Library foi desmantelada por um ex-membro – e atual traidor – chamado ''Ragna the Bloodedge'', também conhecido como ''O Ceifador'', em uma tentativa frustrada de destruir toda a organização. A NOL, em uma tentativa desesperada de parar o Ceifador, coloca uma alta recompensa por sua cabeça para quem conseguir capturá-lo. Porém, a coisa não vai ser fácil, já que Ragna possui uma poderosa forma de Armagus chamada de ''Azure Grimoire'', também conhecida como BlazBlue. Isso leva a Library, bem como a União de Ikaruga e outros lutadores a perseguirem Ragna, não somente pela recompensa, mas também pelo BlazBlue. A história é bem desenvolvida e até certo ponto profunda, já que desenvolve bem todos os personagens e não se foca apenas em Ragna e nos principais membros da NOL.

Toda a história de Calamity Trigger vale para BlazBlue: Calamity Trigger Portable, já que se trata apenas de uma conversão do game visto nos consoles para o PSP. Tudo o que é visto nos videogames de mesa pode ser conferido aqui, ainda que em menor resolução e com alguns pequenos defeitos a mais. Contudo, a história se mantém exatamente a mesma, com a qualidade que conhecemos por parte da Arc System Works.

Entretanto, é na história que já nasce um dos principais defeitos do jogo. Após iniciar o game no seu videogame favorito você assiste uma bela sequência introdutória de animê, o que não se repete no modo ''Story''. Todas as cenas que contam a história são apresentadas de forma praticamente estática, com poucos movimentos se resumindo à boca dos personagens e outras animações mínimas e apenas com um texto acompanhando. No texto é possível seguir diversos caminhos com as opções escolhidas, como em um típico jogo japonês de simulador de namoro, mas é desanimador e não passa a emoção de acompanhar a saga dos diversos personagens, já que você pode seguir a história de cada um. Ao menos elas podem ganhar um desdobramento, já que é possível terminar uma história com menos de 50%. Isso não quer dizer que você completou toda a saga ali e descobriu todos os segredos. Quando isso ocorre, o jogo exibe a mensagem ''A verdade ainda será encontrada'', para que você jogue novamente, tomando caminhos diferentes em suas escolhas. Apesar de curioso e longo, o modo de história é pouco interessante, já que no modo ''Arcade'' a história principal também é contada, com a diferença de que no arcade as lutas vem em maior quantidade e você precisa avançar pelas batalhas apenas uma vez para assistir ao final de cada personagem.

Como em Guilty Gear, as lutas de BlazBlue são frenética. E é isso que conta em um jogo de luta, certo? Aqui a Arc System Works fez seu dever de casa, entregando um bom sistema de combate, com controles de fácil aprendizado até mesmo para pessoas que sequer gostam de fighting games. As batalhas ocorrem como em qualquer jogo de luta 2D, com personagens desenhados em sprites em um campo igualmente 2D. Esqueça a divisão de golpes entre chute/soco com três botões para cada. Em BlazBlue você conta com quatro botões básicos para realizar todos os seus golpes. Existem os botões de ataque A, B, C e D, cada um mapeado em um dos botões frontais do PSP. A, B e C são os golpes fraco, médio e forte, respectivamente, enquanto o D funciona como o ''Drive'', um tipo de golpe especial automático, que pode ser ativado apenas ao pressionar o botão, sem a necessidade de nenhum comando adicional no seu direcional. Simples e eficaz, principalmente para os novatos. Mas, se você é hardcore, não se preocupe, a Arc System Works não esqueceu do público e incluiu comandos mais elaborados, ativados através da combinação de botões (que ficam mapeados nos botões superiores do controle) e com o direcional, tudo muito útil para lutas mais elaboradas, como a recuperação rápida, o Barrier e o cancelamento de golpes, que permite que você ''engane'' seu oponente, cancelando seu golpe de imediato para partir em outro ataque inesperado. As táticas são muito variadas e drenam a barra de ''Heat'', o que não permite que elas sejam apelonas. Para ativar especiais espalhafatosos, a coisa fica ainda mais simples para o PSP, pois basta apenas, na configuração ''default'' escolher uma direção do analógico para aplicar o golpe correspondente, dependendo da sua barra de energia.

Infelizmente, indo de contra-mão com as versões de console, o game no PSP não possui multiplayer online, em rede Infraestrutura. Somente o multiplayer local, ad-hoc, com salas suportando até quatro jogadores (com o máximo de dois lutando e dois assistindo, simultaneamente). Um belo desperdício, já que Blazblue nos consoles continua sendo jogado online até hoje e um modo igualmente online no PSP daria muito certo. Para satisfazer os mais afoitos por conteúdo, o game conta com um modo inédito em relação ao Xbox 360 e PlayStation 3. Chamado de ''Legion Mode'', aqui o jogador participa de uma guerra no estilo ''War'', dominando territórios e angariando novos aliados. Tudo, é claro, pautado nas batalhas de um contra um.

O número de personagens presentes em BlazBlue pode ser considerado um ponto fraco do jogo, mas a produtora soube trabalhar nesse ponto, provando que quantidade não quer dizer qualidade. Cada lutador é único e possui uma gama de golpes exclusiva, com características próprias. Esqueça os diversos clones que ''soltam hadouken'' ou variações disso em outros jogos de luta, aqui nenhum personagem é igual ao outro e cada um é interessante por si só. Noel, nossa favorita, tem uma variedade de golpes a partir de sua pistola mágica, mas ela possui golpes de proximidade a partir do Drive, o que a torna uma personagem equilibrada em combates corpo-a-corpo ou a distância. Já Tager, o grandão vermelho, é forte e tem poderosos golpes corporais, inclusive para atingir oponentes que estão caídos no chão. É importante se especializar em determinado personagem, já que o outro que você escolher em uma próxima luta pode ser totalmente diferente do que você já está acostumado. Cada personagem possui também habilidades secundárias. Por exemplo Carl, um garotinho que controla uma marionete para ajudar na luta; Litchi, que tem um bastão retornável que pode atingir o oponente pelas costas; ou o estranho Arakune, que amaldiçoa os oponentes e lança insetos sobre eles. Todos os lutadores estão bem desenhados, no mesmo estilo da arte gráfica e do character design apresentado em Guilty Gear, mas também de forma original, sem parecer meras cópias do game antecessor.

Falando em gráficos, BlazBlue no PSP tenta se manter fiel em relação às versões originais de console, mas a coisa fica um pouco reduzida em um tom geral. Todos os sprites estão em óbvia menor resolução, assim como cenários, menus e textos. Com isso, o efeito estonteante das lutas nos consoles se perde, mas ainda continua com um visual simpático e colorido, típico de um jogo verdadeiramente japonês. Até a apresentação das batalhas é divertida, seguindo o estilo da produtora. O bordão ''Heaven or Hell? Let's Rock'' de Guilty Gear dá lugar à ''The Wheel of Fate is turning. Rebel one, Action!'', bem espalhafatoso, como a Arc System Works gosta. A dublagem em inglês é o ponto fraco da parte sonora, e a coisa piora ainda mais, já que o áudio também sofreu um certo ''downgrade'', estando um pouco abafado, em qualidade mais baixa do que o que é visto nos consoles.

BlazBlue é um jogo divertido e que, com certeza, vai te entreter por algumas horas. Mas, comparado à outras ofertas em termos de jogo de luta no mercado, pode passar facilmente em branco. Tal afirmação é baseada nos pequenos detalhes e entrelinhas que desenham o jogo. Os controles são de fácil adaptação e qualquer novato poderá chegar, escolher seu personagem favorito, e desferir uma série de combos facilmente aplicáveis no adversário. As opções de personagens são poucas, um total de 12, mas isso não compromete as batalhas, já que cada um é bem diferente do outro e possui características próprias peculiares, como golpes e especiais. Enquanto os embates no versus (de dois jogadores) são sensacionais, principalmente o online – por conta do lag inexistente, o modo single player pode ser comprometido pela inteligência artificial mal programada. Os gráficos dos personagens, apesar de vivos e coloridos, ficam um pouco serrilhados por conta do rescalonamento da tela. Já os cenários são muito bonitos de se ver, principalmente na apresentação antes de cada luta no modo Arcade. O resultado final de BlazBlue é um belo produto para quem jogou muito Guilty Gear, mas apenas ''mais um'' jogo de luta para quem está acostumado com outros títulos.

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