segunda-feira, 17 de maio de 2010

ANALISE: NIER PS3 XBOX360



Sabe aquele jogo que começa a ser timidamente divulgado, todo mundo começa a malhar as primeiras imagens e a falta de informações adicionais só piora a situação? Apesar disso, você ainda leva fé. Aquele título que vem de uma produtora grande que, mesmo com os problemas durante a fase de divulgação e produção você acredita que ele vai ser muito bom e irá te divertir por horas. Aí começam a sair os primeiros vídeos, que não animam muito, acompanhado de mais uma dose de screenshots, a abertura do site oficial e aí vai, sempre piorando. Apesar disso, você ainda leva fé, e, no final das contas, o jogo é uma excelente surpresa, grande título, um clássico moderno, candidato ao famigerado título de GOTY (Game of the Year). Pois é, colega, ''NieR'' não é este jogo.

Anunciado sem muito alarde pela Square Enix, ''NieR'' foi uma verdadeira salada mista durante sua divulgação. Primeiramente ele foi revelado como um título único multiplataforma, para PlayStation 3 e Xbox 360. A história iria se centrar em um pai que parte em uma aventura para buscar uma cura para sua filha, que sofre de grave doença. Tempos depois, a Square Enix resolveu promover a ''casa da mãe joana'' e lançar uma versão diferente no Japão, exclusiva para o PlayStation 3, sob o nome de ''NieR RepliCant''. Nesta edição, o pai seria substituido por um guerreiro mais jovem e a filha dá lugar a uma irmã. Contudo, a versão com o personagem mais velho também sairia na Terra do Sol Nascente, com o título ''NieR Gestalt'', exclusiva para o Xbox 360. Mas a confusão não parou por aí e a companhia optou por distribuidor no Ocidente somente a versão ''Gestalt'', chamada por aqui apenas de ''NieR'', aí sim, para os dois consoles. Confuso? Isso é só o começo.

Com isso, que fique claro que nossa análise é direcionada ao ''NieR'' ocidental. Mas não que isso faça muita diferença, já que dificilmente teremos qualidade na versão japonesa, se nos basearmos neste aqui. Além dos problemas que citaremos a seguir, o game ainda sofreu com uma péssima campanha de marketing, como você deve ter reparado no parágrafo acima. Se isso não bastasse, houve a polêmica desencontrada de uma das personagens do game, que é uma mulher possuída por um demônio masculino, o que a caracterizou como um tipo de hermafrodita. Isso sem falar na falta de informações sobre jogabilidade ou qualquer coisa que o valha. Mas é justamente sobre ela que vamos falar por aqui, afinal, a jogabilidade é o coração de um jogo.

Detalhando rapidamente a história, Nier é um mercenário que presta serviços diversos em sua aldeia. Lá ele vive com a filha, Yonah, que sofre de uma grave doença, o que o deixa em constante busca por uma cura para a infante. Infelizmente, certo dia, ela desaparece da vila para ser encontrada momentos depois em ruínas distantes, agora contaminada com algo pior. Lá, Nier também encontra o Grimoire Weiss (Grimório Branco), um poderoso livro que começa a acompanhá-lo em sua jornada, capaz de lhe garantir poderes mágicos para derrotar os inimigos. O mote é bem básico e, aparentemente, não tem grandes falhas. O problema é como ele evoluiu e foi trabalho, ou não.

''NieR'' é um típico hack 'n slash, ou seja, acerte tudo o que vir pela frente com o botão de ataque, mas com elementos de RPG. Desenvolvido pelo estúdio Cavia (de Drakengard no PS2) o game até se esforça, porém mais erra do que acerta a começar pelo que chama mais a atenção, o trabalho gráfico. Tudo bem, todo mundo sabe que este não é um ponto determinante para avaliar a qualidade de um game, já que, por outro lado, ele pode trazer uma ótima jogabilidade para compensar o grafismo simplista. Mas, este não é o caso de ''NieR'', e, se fosse, seria necessário uma jogabilidade estupenda.

Sem exageros, os gráficos de ''NieR'' lembram muitíssimo um game da geração passada. É possível notar todas as técnicas desta época pelos cenários, como matagais que não passam de duas texturas cruzadas, água em um único plano sem efeitos de onda ou reflexo, textura no chão esticada, objetos quadrados e pontudos, sem muita definição... é de entristecer o mais entusiasta. Ainda neste âmbito, para ''fechar o caixão'' no quesito gráficos, temos o design dos personagens, nem um pouco inspirados e bastante genéricos. E isso porque estamos nos referindo apenas aos personagens centrais. Espere até ver os NPCs ou até mesmo os inimigos. Para sermos justos, podemos afirmar que em alguns momentos (apenas alguns, bem poucos), você vai perceber algum personagem ou local com uma qualidade gráfica um pouco mais elevada, mas não muito.

A jogabilidade segue a mesma linha e é bem básica. Nier possui uma barra de energia e uma para a magia. Dois botões servem para ataques físicos (forte e fraco) enquanto o outro fica encarregado do pulo. Os botões superiores do controle servem para ações secundárias, como esquiva, bloqueio e ataques mágicos. Uma das (poucas) qualidades do jogo é a possibilidade de configurar 100% os comandos, de acordo com seu jogo ou acessibilidade.

Basicamente a aventura consiste em se aventurar em cidades e dungeons repletos de ameaças, geralmente em companhia de algum NPC que te ajudará e com uma missão específica conseguida na sua vila ou fora dela. As primeiras missões são simples e funcionam como um tutorial para os comandos básicos, mas as coisas vão se complicando com o tempo. Logo você contará com o auxílio de Kainé (a tal hermafrodita), #7 (um ser macabro e esquelético) e o próprio Grimoire Weiss, que é o principal parceiro de Nier durante a aventura, responsável por lançar magias nos inimigos.

Os combates são pouco inspirados, como a jogabilidade em geral, com efeitos de doer e inimigos genéricos toda a vida. Talvez para ter uma boa desculpe para serem mal modelados, as ameaças aqui são sombras, ou ''Shades'', como são chamados na história. Tratam-se de figuras quase invisíveis, formada por linhas semiunidas com formatos diversos. Realmente, não dá para entender se foi a intenção deixá-los deste jeito para ter algum contexto ou para poupar processamento do gráfico.

Há alguns bons elementos nas batalhas, como por exemplo, as magias. Elas são peças-chave durante os embates contra chefões, já que eles são derrotados apenas com um golpe mágico certeiro em determinado ponto do corpo. Por exemplo, quando um boss é derrotado, um relógio aparece em algum lugar dele, servindo como alvo. É preciso utilizar uma saraivada de tiros mágicos no local antes que o tempo se esgote, para assim vencer a luta. Obviamente, se o jogador não obtiver sucesso, o inimigo se levanta para dar mais trabalho. É uma saída interessante para a finalização de lutas de grande escopo, fugindo da mesmice que impregna os jogos do tipo, como quick time events, elemento que se popularizou em diversos títulos após o primeiro ''God of War''.

O restante do game não ajuda para melhorar o resultado final, apesar de contar com alguns elementos de potencial. Nas cidades, ele lembra um típico RPG, com NPCs que concedem quests, um grande lado comercial onde é possível comprar itens e armas e até atividades paralelas, como pescar. Nos ferreiros, por exemplo, é possível melhorar suas armas, em outros locais você pode trabalhar em suas magias e destreza para batalhas. Nos combates, eliminando inimigos, letras de um alfabeto místico são coletadas por Grimoire Weiss, que podem ser utilizadas para criar novos golpes especiais quando palavras são cravadas em suas armas. Em algumas ocasiões também é possível pré-configurar seus aliados, como Kainé, por exemplo. Em certas batalhas você poderá escolher se ela será mais agressiva ou se ficará apenas te dando suporte. O problema é que, apesar destes bons elementos (com potencial, como citamos) a produtora botou tudo a perder criando não mais do que um básico arroz-com-feijão.

Já citamos a pobreza dos gráficos e design em geral. Mas, além do fato de toda a jogabilidade ser bem básica, ela também apresenta algumas inserções bem estranhas. Quando Nier está dentro de pequenos espaços, como em sua casa, a câmera muda de 3D para 2D, enquanto o personagem ainda pode realizar saltos esdrúxulos, completamente desnecessários. Aqui na redação, apelidamos este ato de ''dança do saci doido'', para se ter uma ideia da bizarrice. Boa parte da animação do personagem principal é de causar estranheza, em alguns momentos até sem explicação.

Sem falar na parte sonora, que a todo o momento tenta te colocar imerso em um jogo épico, com todo o coral de vozes o possível, quando ''NieR'' está longe de ser um. A dublagem, contudo, é muito boa. Destaque para a voz de Kainé, pela experiente Laura Bailey, que dublou, entre outros trabalhos, Chun-Li em ''Street Fighter IV'' e Serah em ''Final Fantasy XIII''. Um dos momentos mais engraçados da trama é logo na abertura, protagonizado por Kainé, esbravejando e xingando Weiss de todos os nomes possíveis. Outro destaque fica por conta de Jeremy Irons, conceituado astro de Hollywood, na voz de Grimoire Weiss.

Tudo bem que a Square Enix não deve ter se envolvido muito com a produção de ''NieR'', que foi desenvolvido pela Cavia, mas a falta de cuidado na produção deste game pode acabar sujando sua fama. O estúdio, conhecido por ''tirar leite de pedra'' nos mais diversos títulos por conta de gráficos, história e jogabilidade, coloca no mercado um produto que vai contra todos estes conceitos. ''NieR'' pode agradar alguns, pois apresenta até uma boa quantidade de horas de jogo (mais de 10, em média) e bastante coisa para se fazer, como diversas missões paralelas e tarefas para se realizar dentro de sua cidade. Contudo, com tantos títulos mais interessantes chegando ao mercado, este aqui acaba ficando para escanteio por sua baixa qualidade em diversos aspectos.

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