domingo, 10 de janeiro de 2010

ANALISE: BAYONETTA XBOX360 PS3




Levar ou não levar a sério os jogos eletrônicos? Bem, alguns deles possuem propostas bastante distintas, como é o caso de Uncharted 2 ou Call of Duty: Modern Warfare 2. São títulos que se levam a sério, apresentando uma narrativa sólida e, quem sabe, até melhor do que muito filme disponível hoje no cinema. Mesmo alguns títulos menos inspirados na realidade, como a série Halo, usam a sobriedade como ferramenta principal em sua narrativa. Mas não precisa ser sempre assim, não é? Afinal, quem nunca deu gargalhadas com um "Top Secret" ou "Corra que a polícia vem aí" algum dia na vida?

E é assim que Bayonetta se apresenta. Trata-se de um game de ação bastante competente e divertido, e que em momento algum se leva a sério. As piadas são as mais escrachadas possíveis, usando e abusando de acontecimentos pífios como fonte de gargalhadas, além de trazer uma tonelada de piadas de cunho sexual, graças é claro à protagonista do game, uma bruxa que é de tirar o fôlego de qualquer um. Se o game se sustentasse somente com desta abordagem, talvez tivéssemos mais um exemplo de como desperdiçar uma boa idéia. Felizmente não é o que acontece.

Bayonetta é sim um jogo engraçado, e da forma mais bizarra possível, mas é também um excelente jogo de ação. Podemos dizer que temos aqui um Devil May Cry que possui um foco maior na comédia, mas ao mesmo tempo oferece o dobro de opções no que diz respeito à customização de personagem e elementos que mudam de forma significante a jogabilidade quando adquiridos ou utilizados pelo jogador. Por fim, podemos dizer que a longevidade de Bayonetta é imensa, dada a grande quantidade de coisas a serem descobertas e compradas pelo jogador ao longo do game, mesmo após seu término.

A história, como era de se esperar, é sólida, mas cheia de inconsistências propositais, de modo que tudo fique ainda mais engraçado. Ainda assim, é uma trama que contém começo, meio e fim, e de certa maneira prende a atenção do jogador quanto aos seus detalhes. A heroína do game é a bruxa Bayonetta, dotada de imensos poderes, uma espécie de "sátira cabeluda" do personagem Alucard, da série de animação japonesa Hellsing. Ambos os personagens são extremamente semelhantes, tanto em relação à forma com que interagem com os adversários quanto em sua personalidade. E assim como sua cara-metade japonesa, o mais correto seria chamar Bayonetta de "anti-heroína".

Isso fica claro após descobrirmos que a bruxa na verdade é uma "entidade das trevas", classificada como "Madame Butterfly" e que tem como principal objetivo destruir as forças divinas presentes na terra na forma de anjos. Sim, as bizarras criaturas vistas em vídeos são na verdade seres celestiais e o seu objetivo é dar um fim em sua existência. É claro que existe muito mais por trás desta perseguição entre ambas as partes, mas deixamos a surpresa para quem pretende realmente acompanhar a história do game. Não espere um romance intenso ou uma saga épica, mas no fim vai perceber que a história é sim bem bacana e divertida de se acompanhar.

Feita sua devida apresentação, vamos então direto ao que interessa: sua jogabilidade. Conforme comentamos no início, estamos lidando com um clone de Devil May Cry melhor elaborado. O jogo em si é bem dinâmico e oferece mudanças sutis e progressivas na jogabilidade de forma que a experiência consiga manter-se interessante durante todo o tempo. Os comandos são simples de entender e possuem uma excelente resposta. Um deles faz com que Bayonetta desfira golpes com as mãos, enquanto o outro executa golpes com os pés da heroína. Há também um botão que permite ao jogador atacar com as armas secundárias da bruxa, neste caso suas pistolas, travando assim a mira no adversário mais próximo e mantendo o ataque de maneira contínua até que algo interrompa este processo.

Quando entramos em detalhes sobre o sistema de golpes é que a coisa esquenta de verdade. É possível executar uma série de combos distintos, cada um com uma execução e finalização diferente. A forma com que estes poderosos golpes interagem com os adversários pode ser um fator decisivo na hora de continuar seus ataques de forma fulminante. Uma coisa que os jogadores precisam ter em mente é que não se trata de um jogo meramente "smash buttons", ou seja, apertar os botões de forma desengonçada não garante bons resultados. E é por este motivo que existe o botão de esquiva. Além de fazer aquilo que o nome propõe – que é esquivar dos ataques adversários – ele também ativa o Witch Time, um dos mais importantes poderes de Bayonetta.

Funciona assim: todas as vezes que o jogador consegue esquivar de um ataque, o jogo fica por alguns pouquíssimos segundos em câmera lenta, facilitando em muito sua vida além de tirar proveito da guarda aberta de seus adversários. Mas isso não funciona de qualquer maneira. A esquiva precisa ser feita milésimos de segundos antes do golpe acertar a personagem. Por exemplo, não basta apertar o botão e desviar de uma esfera de fogo que está vindo na sua direção, mas está a metros de distância. É preciso que você desvie quando ela estiver extremamente próxima da personagem, ativando assim o Witch Time.

Essa mecânica exige do jogador maior habilidade nos controles, o que proporciona lutas verdadeiramente épicas contra os mais diversos tipos de adversários. Porém existem ainda outros recursos que tornam a experiência ainda melhor com o passar do tempo. Cada vez que o jogador destrói seus adversários, eles deixam para trás halos, aquelas auréolas de anjo. Estas auréolas são utilizadas como moeda de troca em um barzinho especial, cujo dono oferece à bruxa diversos tipos de equipamentos exóticos. Eles variam entre itens de uso limitado, como os pirulitos que oferecem bônus no ataque, defesa e recuperam a energia da personagem, além de acessórios que garantem habilidades especiais durante as lutas.

Além disso, estão disponíveis armas extras para compra, permitindo que você amplie e melhore seu arsenal, tornando a jogabilidade ainda mais variada e facilitando um pouco as coisas nos momentos finais do game. Um dado importante é que cada arma possui sua própria combinação de golpes, além da possibilidade de misturarmos o uso de mais de um destes equipamentos. Por exemplo, você pode equipar pistolas nos pés da bruxa – sim, o salto alto dos sapatos são na verdade trabucos poderosíssimos – e uma espada em suas mãos. O resultado final desta combinação pode variar bastante, criando assim inúmeras possibilidades de jogo. Para melhorar ainda mais este sistema, o título permite que você crie dois "sets" distintos de equipamento, alternando entre um e outro com um simples botão.

Para terminar, temos também roupas extras e alguns equipamentos que garantem habilidades especiais que não estão necessariamente ligadas às batalhas, funcionando mais de forma estética do que prática. Ainda assim a vontade de descobrir tudo o que o game tem a oferecer é grande, e o jogador mais dedicado certamente passará horas e horas em lutas frenéticas, na tentativa de conseguir os melhores itens. E por falar nisso, prepare-se para ralar bastante. Digamos que a compra de itens é dificílima, seja na hora de conseguir itens secretos ou simplesmente acumular uma boa quantidade de auréolas. Ao mesmo tempo que é difícil, podemos dizer que a economia do game é justa, e ajuda bastante os jogadores mais habilidosos.

Na verdade muitas coisas influenciam a aquisição de auréolas e itens extras, entre elas o próprio sistema de combate. Ao fim de casa segmento com batalhas, o jogador recebe uma nota que varia entre pedra, bronze, prata, ouro e platina. Esta nota é dada de acordo com sua atuação nos combates, uso de itens que ajudem durante este processo e o número de mortes sofridas no segmento. Isso significa que, se você não usou itens, não morreu e ainda recebeu pouquíssimo dano dos adversários, então você merece não só um prêmio de platina, mas também um bônus extra em auréolas. Existe ainda um movimento especial que garante ainda mais destes valiosos itens. Trata-se da tortura, um movimento especial que pode ser ativado todas as vezes que o jogador consegue preencher um contador de energia localizado na parte de baixo da barra de vida da personagem. Ao executar a tortura, o game pede que o jogador pressione repetidas vezes um botão. Quanto mais vezes forem pressionadas antes do fim da tortura, maior é o bônus adquirido.

Existe ainda um mini-game entre as fases que pode ajudar neste sentido. Com o nome de Angel Attack, seu objetivo é derrubar o maior número de anjos presentes na tela, usando uma quantidade mínima de balas em sua pistola. Quanto mais adversários derrubados, maior é a quantidade de pontos adquiridos. É possível então trocar estes pontos por itens de cura ou simplesmente por seu valor eu auréolas, multiplicado por 100. Ambas as opções são válidas já que, ao adquirir os itens desta forma, você passa a gastar menos neste processo. Mas se você se garante nos controles e acha que pode passar pelos desafios sem usar qualquer tipo de ajuda, então é só trocar pelas auréolas. É importante ter uma boa noção deste tipo de economia, já que alguns acessórios e armas fazem realmente muita diferença durante o game.

Existe ainda uma terceira maneira de adquirir estes itens de cura e de ajuda. Qualquer bruxa que se preze tem em suas mangas um livrinho de receita de poções e outras feitiçarias. Bem, digamos que Bayonetta tem também um destes livros, só que ensinando a fazer pirulitos. Pois é, os tais itens de ajuda são pirulitos de cores e sabores diversos, cada um com um potencial diferente. Conforme você avança e destrói objetos presentes no cenário, é possível recolher alguns materiais básicos para a criação dos tais pirulitos. O procedimento é bastante simples e feito por meio da tela de informações do game. Fazer uso deste sistema é importantíssimo, não só para te tirar da roubada nos momentos mais difíceis, mas também para economizar uma graninha na loja.

Ainda que você seja a pessoa mais controlada do mundo ou a mais habilidosa e acumule todo o dinheiro disponível no game do início ao fim, será impossível comprar todos os itens em uma só jogada. Neste caso o jogador é praticamente obrigado a terminar o título mais de uma vez caso queira ver tudo aquilo que o jogo pode realmente oferecer. Isso é ruim? De maneira alguma! Com uma jogabilidade super bem feita e lutas extremamente desafiantes e divertidas, jogar mais de uma vez e recolher tudo o que é possível será uma honra para aqueles que apreciarem o título. Isso garante uma longevidade bem bacana para quem pretende explorar todas as facetas de Bayonetta, e acredite, estes serão amplamente recompensados. Alguém aí falou vestidinho de gueixa? Hmmm...

Além desta longevidade embutida, dada a presença de inúmeros extras, níveis de dificuldade extra e destrancáveis em geral, podemos dizer que a história do game possui uma duração bastante considerável. O título pode ser terminado em uma média de 9 a 10 horas, algo que devemos levar em conta justamente por fugir um pouco do padrão de jogos curtos presente hoje e se tratar de um game de ação extremamente frenético, o que por si só favorece uma curta duração. Outra coisa que contribui para uma duração maior ou menor é o sistema de dificuldade do jogo. Ele é bastante maleável, permitindo que até mesmo o menos habilidoso consiga jogar mais tranquilamente. No nível Easy, por exemplo, os golpes e combos são acionados de maneira automática, bastando que o jogador pressione um dos botões de ataque. Esta automação já não está presente no modo normal do game, que é o ponto de partida para a grande maioria dos jogadores experientes no gênero.

Por incrível que pareça, a parte gráfica do jogo talvez seja seu principal ponto fraco. Não que ele seja horroroso ou qualquer coisa do tipo. O design dos monstros é muito bom, sem contar o da própria bruxa Bayonetta, deixando vários heróis parrudos no chinelo. O mais decepcionante talvez esteja no fato de que o game peque um pouco no seu acabamento de forma geral. A quantidade de aliasing, o famoso serrilhado, está um pouco acima do normal. As texturas também não estão todas em excelente resolução, fato que fica um pouco perceptível demais nos atuais consoles, rodando em uma resolução de 720p. Apesar deste aparente desleixo, o resto acaba agradando bastante. Apesar de carnavalescos, os inimigos apresentam uma certa harmonia em seu design, todos mantendo o mesmo padrão básico de cores e deixando aquela idéia de seres celestiais mais fixa.

O mais bacana, no entanto, são as animações, principalmente as da bruxa protagonista. Os marmanjos vão delirar com o rebolado de Bayonetta, além de suas poses, digamos, reveladoras, durante as lutas. Tudo na verdade faz parte da proposta de tornar o game uma verdadeira galhofa na maior parte do tempo, mantendo assim o bom humor, mesmo que escrachado em alguns momentos mais específicos. Afinal, é difícil não se encantar com o exagerado show de luzes e movimentos dos combates do game, principalmente aqueles contra chefões colossais, onde a pequena bruxa parece um minúsculo mosquito frente o seu tamanho exagerado.

Melhor que seus gráficos só a parte sonora mesmo. As músicas são excelentes, mesmo que aparentemente desconexas com a proposta do título. Afinal, quem imaginaria ouvir uma versão remix de ''Fly me to the moon'' durante uma luta cheia de violência e sangue contra anjos de diversos escalões? No fim esta discrepância acaba ganhando certo sentido, tornando a experiência ainda mais interessante, engraçada e divertida. Os efeitos sonoros não ficam para trás, com explosões, tiros, rugidos, gritos e tudo o que é necessário para manter a experiência sempre na linha, com ótima qualidade final. Para fechar, temos uma excelente dublagem, com vozes que se encaixam com exatidão na proposta de cada personagem. Destaque para a dubladora de Bayonetta, que soube encarnar a sensual personagem sem precisar apelar para o estereótipo da atendente de sexo por telefone. A interpretação foi muito bem dosada, fazendo com que a personagem gozasse de personalidade e carisma.

Bayonetta é um jogo curioso. Muitos tiveram uma primeira impressão ruim do game ao assistir vídeos e conferir screenshots. O fato é que o game não se leva a sério. A história, apesar de bacana, possui inúmeros exageros intencionais, o que tornou a narrativa mais dinâmica e divertida. Paralelo a isso temos um título de ação excelente, com jogabilidade sólida, diversificada e muito divertida. A presença de muitos extras, onde a maior parte só pode ser adquirida após terminar o game, ajuda a aumentar ainda mais a longevidade do jogo, sendo isto um prato cheio para os amantes da ação frenética e bem modelada. Apesar de não ter um acabamento gráfico fenomenal, o título conta com vários pontos positivos neste sentido, sobretudo as animações – que rebolado... – e os efeitos de luz durante as lutas. Fecha então, com chave de ouro, a excelente dublagem e seleção musical, com direito até a versão remix de "Fly me to the moon", original de Frank Sinatra, durante algumas lutas. Super recomendado!

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