segunda-feira, 7 de junho de 2010

ANALISE: PRINCE OF PERSIA : THE FORGOTEN SANDS PS3 XBOX360



Assim como muitas outras franquias no passado, Prince of Persia também teve sua época de glória e seus fracassos. Outrora um clássico cult, amado por sua narrativa e gameplay à frente de seu tempo, o primeiro jogo se tornou um sucesso instantâneo, várias vezes revisitado ao longo das décadas. Jordan Mechner é a quem devemos agradecer. Mas quem está nessa indústria às vezes se molha... ou melhor, se queima. Prince of Persia 3D, por exemplo, foi uma grande bomba. Problemas financeiros da distribuidora forçaram o jogo a ser lançado antes de passar pela fase de apuração, e os inúmeros bugs que foram parar nas mãos dos jogadores arrasaram qualquer chance de sucesso. Vocês poderão saber mais detalhes sobre a história dessa série em nosso terceiro artigo especial sobre personagens presentes na cultura gamer que vão parar nas telonas.

Na história mais recente da saga, a era Ubisoft digamos assim, Prince of Persia obteve recepções controversas. Sands of Time, o primeiro de uma trilogia, foi um enorme sucesso de crítica, mas suas vendas ficaram abaixo do que esperava a publisher francesa. As notas da continuação, Warrior Within, foram menores, mas as vendas ficaram do outro lado da balança, superando as do primeiro. Isso deu crédito à UbiSoft pelas mudanças, e a terceira vertente, um mix das duas primeiras, manteve uma média similar às de Warrior Within, assim como suas vendas. Em 2008, mais uma vez um jogo da série não correspondeu às expectativas. Bem recebido por sites e revistas do mundo, o cel-shaded Prince of Persia não vendeu tanto quanto a Ubi gostaria. O que fazer em uma situação dessas? A Ubisoft resolveu optar pelo caminho mais fácil, retornando à bem sucedida trilogia Sands of Time e lançando um episódio gancho, se encaixando entre os dois capítulos iniciais da trilogia e pegando carona na garupa do filme, que chegou recentemente aos cinemas.

Prince of Persia: The Forgotten Sands poderia ser um autêntico Sands of Time "Next-Gen", trazendo uma evolução que certamente agradaria aos fãs da trilogia em questão. Em vez disso sofre com o velho mal de jogo baseado em filme. Talvez por ser um "jogo baseado em filme baseado em jogo" (NE.: entendeu?), essa edição não seja exatamente a pior já vista. Mas três importantes fatores, sensivelmente ausentes dessa produção, a tornam distinta e distante do sucesso desfrutado pela franquia: inspiração, acabamento e identidade.

Seguindo os eventos do filme, Forgotten Sands apresenta um príncipe diferente, mais "Hollywoodiano", com atitudes que o diferem da trilogia a que pertence, fazendo piadas com seu irmão enquanto seu reino é invadido e destruído. Ao perceber que as coisas estão ficando mais sérias, ele decide liberar as areias do tempo e libertar o exército do rei Salomão. No entanto, o exército aprisionado na verdade não pertencia ao rei em questão, tendo sido enviado para destruir Salomão. Agora livre, a turba de mortos-vivos passam a atacar não apenas os invasores, mas também os irmãos, e caberá a eles prender novamente as criaturas.

A impressão que se tem de Forgotten Sands é que sua gameplay é pobre. O foco está tanto nos tradicionais elementos de plataforma - que até conseguem resgatar com alguma eficácia os desafios de Sands of Time - com um sistema de combate simplificado e muito limitado, mesmo com os vários poderes adquiridos pelo príncipe. Pelas paredes e muralhas do castelo, o herói persa correrá, pulará e se pendurará, tornando linhas horizontais e verticais seu caminho através dos cenários. Essa foi uma herança de Sands of Time, onde, pela primeira vez, era possível correr alguns metros por uma parede para poder saltar e alcançar plataformas distantes, inatingíveis com pulos normais. Observar essas possibilidades no cenário passou a fazer parte da estratégia de jogo, oferecendo um elemento de quebra-cabeça a mais. Forgotten Sands repete essa dose do mesmo jeito, e traz alguns poucos adicionais como o poder de manipular o tempo e usar, por exemplo, um pequena queda d'água como pilar.

Se no passado o mecanismo de luta já foi fantástico e desafiador, em Forgotten Sands as coisas não seguiram o mesmo nível. Entrar em combate contra as criaturas do jogo passa duas sensações ao jogador: uma pequena adrenalina inicial pela quantidade de inimigos na tela (às vezes uns vinte) e o seguido cansaço pelo pouco desafio e pela repetição de movimentos. Os inimigos cercam o príncipe, mas pouco agem. Basta que o jogador fique se esquivando repetidamente e sairá ileso mesmo que tenha que enfrentar 200 adversários seguidos. Golpeie, esquive, golpeie, golpeie, esquive, golpeie, chute, passe para o próximo cenário. A inteligência artificial é fraca e a animação dos inimigos é muito lenta, dando tempo de sobra para se perceber quando e quem vai atacar. Eles levam quase dois segundos para sair de uma posição de inércia, levantar a espada e desferir o golpe.

Também como a trilogia em questão, é possível voltar alguns segundos no tempo e refazer certas desastrosas ações como pular para o infinito, cair em uma armadilha ou ser derrotado em um combate quando estava prestes a vencer, por exemplo. Isso gasta a barra do tempo, que pode ser preenchida com esferas azuis adquiridas em vasos e barris quebrados ou inimigos destruídos.

Tentando incrementar os combates, a Ubisoft implementou um esquema de powerup. Esferas amarelas deixadas por inimigos derrotados se acumulam e pode ser gastas em um organograma onde habilidades novas são aprendidas, HPs aumentado e muito mais. Agora o príncipe é capaz de usar os elementos a seu favor nos combates, mas a maioria absoluta dessas técnicas não passam de recheio de linguiça. Furacõezinhos, pedras que envolvem o príncipe e pequenos escudos de proteção em momento algum realmente passam algum conceito de funcionalidade, podendo o jogador simplesmente esquecer que eles existem e se prevalecer do básico.

 

Artisticamente, até que Forgotten Sands é bacana, mas há ressalvas. O design do castelo foi feito de forma a oferecer muitas rotas alternativas sempre pensando na vertical tanto quanto na horizontal. Areias caindo do teto do castelo atacado dão a entender que ele pode desmoronar a qualquer instante, enquanto em algumas partes tudo que se vê são ruínas. No entanto, as texturas usadas no jogo todo deixam muito a desejar. Baixa resolução e pouca qualidade, além de uma iluminação muito simplória passam a sensação de um jogo datado, sem a qualidade dos jogos atuais AAA. Isso vale para o modelos dos personagens, incluindo o protagonista.

No final das contas, Prince of Persia: The Forgotten Sands é um jogo reprocessado, com ideias copiadas da própria franquia e com pouca ou nenhum identidade. Os poderes dos elementos que o príncipe adquire com o tempo são meros recheios de linguiça e não tem a relevância que poderiam ter. O visual do jogo é datado, e tudo possui uma estética simples demais - nem mesmo o desenho diversificado do castelo salva. Infelizmente, parece que estamos diante de um novo estigma, o do filme-baseado-em-jogo-baseado-em-filme. Claro que Forgotten Sands não é uma perda completa, afinal há os elementos de plataforma que tanto agradam os fãs, mas o sistema de combate fraco e repetitivo o desfavorecem. É uma pena, pois sempre se espera que Prince of Persia esteja no nível de cima em termos de qualidade, mas parece que esse "tie-in" veio apenas para bebericar da fonte do filme, e nada mais.

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