segunda-feira, 7 de junho de 2010

ANALISE: RED DEAD REDEMPTION XBOX360 PS3



Seria falso dizer que o mundo dos games carece de bons jogos baseados no bom e velho bang bang americano, ou caso prefira, os famosos faroestes. Na verdade este é um tema até bem utilizado, o que permitiu que tivéssemos acesso a grandes clássicos de diferentes gêneros, indo do excelente Sunset Riders ao estratégico Desperados e chegando ao recente Call of Juarez. Mas poucos jogos conseguiram de fato colocar o jogador no ''clima'', com situações realmente autênticas, uma ambientação viva e personagens tão carismáticos quanto os presentes nos filmes que popularizaram o gênero ao redor do mundo.

Red Dead Redemption é um título bastante singular neste sentido. Talvez por possuir uma natureza mais próxima a de Grand Theft Auto, e por isso mesmo exigir que o jogador esteja mais integrado ao ambiente que cerca o personagem. O fato é que o título oferece um mundo aberto repleto de pequeninos detalhes, mas que em conjunto fazem grande sentido, permitindo que o jogador usufrua de um nível de interação e imersão muito maior que o apresentado em outros títulos com a mesma temática.

Red Dead Redemption conta a história de John Marston, um fora da lei que chega aos Estados Unidos com uma missão pessoal. Inicialmente o jogador é levado a crer que seu objetivo é simplesmente dar cabo do seu irmão, que tem causado inúmeros problemas com a população local, mas não demora muito para que suas reais inspirações comecem a vir à tona. O fato é que o desenvolvimento da trama é muito bem amarrado, e assim como Grand Theft Auto IV, mantém o jogador sedento por mais detalhes a todo o momento, mesmo que inicialmente os acontecimentos se desenvolvam de maneira mais morna.

É claro, isso tem um motivo. No início existe apenas uma ''fonte'' de novas missões, que por sinal dá continuidade à história do jogo. Conforme o jogador avança, novas fontes surgem e cada uma delas trata de elementos específicos da jogabilidade de Red Dead Redemption. Por exemplo, a fazendeira Bonie, como já era de se esperar, dá ao jogador missões relacionadas ao tratamento dos cavalos, caças de animais, corridas na fazenda, dentre outras coisas. Enquanto isso, o delegado da cidade vizinha oferece missões mais focadas no combate a meliantes, colocando a cabeça de alguns malfeitores a prêmio.

Existe ainda a possibilidade de seguirmos missões opcionais e são elas que dão vida ao game. Elas são extremamente variadas e se dividem em dois tipos, as aleatórias e as de ponto fixo. As aleatórias, assim como o nome, variam bastante quanto à sua duração, tema ou tipo de interação. Basta sair por aí, com seu cavalo, e observar o que acontece à sua volta. Não será raro encontrar com uma donzela sendo atacada por marginais no meio do deserto, ou simplesmente alguém querendo uma disputa amigável de tiro ao alvo. A parte boa é que elas não influenciam no andamento da trama, e o jogador pode parar o que estiver fazendo, a qualquer momento, e resolver o problema na hora, sem que seu objetivo primário mude.

O segundo tipo, o de ponto fixo, é um pouco mais raro e também mais complexo que essas missões simples aleatórias. Geralmente elas dão início a uma espécie de sub-história, uma missão mais longa que vai se desenrolando na medida que o jogador cumpre novas missões deste tipo. Também é mais um atrativo, que mais para frente exige que o jogador visite cidades iniciais, com o objetivo de dar continuidade a essas missões, completando assim essa história paralela. Mas além da satisfação pessoal, o que mais estas missões, paralelas ou não, oferecem ao jogador? É aí que esbarramos no sistema de honra e fama do game.

Na verdade, este sistema é o que define todo o andamento do game, baseado nas ações do jogador. Imagine isso como uma espécie de mistura entre Grand Theft Auto IV e Star Wars: Knights of the Old Republic. Conforme comentamos acima, ele é dividido em duas partes, honra e fama. A honra está intimamente ligada à natureza de suas ações, ou seja, se você é o bonzinho da história ou o vilão que assola vilarejos. Na pratica é ainda mais complexo definir o que é uma boa ou má ação no velho oeste. A impressão é que esta abordagem dúbia foi proposital, de maneira que o jogador tivesse realmente que escolher entre uma ou outra opção, de acordo com sua própria opinião sobre o assunto.

Por exemplo, em dado momento do jogo, um viajante conversa com o personagem dizendo que está procurando por água em alguns lugares, podendo assim sobreviver do seu próprio plantio. Suas suspeitas acabam recaindo em uma fazenda semi abandonada, cujo dono é um velhote bastante arrogante. Ele pede então que você tente negociar com o dono parte de suas terras, de maneira que ele possa prosseguir com sua busca por água potável. Isso dá ao jogador duas opções: ou você pode comprar parte da fazenda amigavelmente ou simplesmente pode matar o velhote e roubar a escritura. O resultado das duas ações é sempre o mesmo, com o tal viajante se estabelecendo na fazenda, mas cada ação tem uma reação. O que impede que os filhos do velhote passem a caçar o personagem como um cão sarnento? Ou que ele seja mal visto em algumas terras, que possuíam influência da família. Muitas vezes o futuro do jogo fica definido por ações simples, tomadas de forma consciente ou não pelo jogador.

O sistema de fama tem funcionamento parecido, mas com influências diferentes. Quanto maior sua fama, mais falado é o seu nome, e isso acaba modificando as ações das pessoas ao seu redor. Se você tiver muita fama e honra negativa, todos o temerão por ser um vilão perverso. Mas se você bancar o herói, descontos serão feitos em lojas, malfeitores temerão sua presença e as mulheres cairão aos seus pés. Tudo depende da maneira com que você interage com o incrível universo de Red Dead Redemption. E essa é uma das grandes coisas do game. Esse sistema de fama e honra também tem influência nas quests, permitindo que algumas específicas apareçam, enquanto outras acabam tendo desfecho diferente dependendo de como você é conhecido no game.

Mas quais são as reais diferenças em ser bom ou mal no game? A jogabilidade sofre alguma mudança com isso? Se sofre! Quanto mais heróicos são seus atos, maiores são as chances de que coisas boas aconteçam com o jogador. Donos de lojas, xerifes e até prefeitos se mostram felizes com sua presença, o que pode garantir ao personagem algumas regalias, dependendo da cidade em que se encontrar. Mas se você agir como um bandido pode ter certeza de que sua cabeça será colocada a prêmio, o que significa uma infinidade de caçadores de recompensa loucos por um pedaço do seu couro. Ser mau também permite ao jogador realizar ações específicas, como seqüestrar alguém em troca de um resgate, organizar assaltos a bancos e até mesmo ficar preso por dias em uma cela. As ações do jogador são sempre relevantes e é isso que dá vida ao jogo.

Outra coisa que ajuda bastante a aumentar o nível de interação entre jogo e jogador é a forma com que os produtores adicionaram ações opcionais, algumas até mesmo secretas. Muitas delas recebem inspiração direta dos filmes do gênero, permitindo que um mar de experimentalismo seja feito no game. É possível, por exemplo, amarrar seu cavalo na parte de fora de um bar, subir até o segundo andar, pular pela janela e cair em cima do cavalo, partindo em disparada. Coisa de filme não? E que tal colocar um lenço no rosto, assaltar uma cidade inteira e não ser reconhecido?

Estamos falando de ações isoladas e que em nada interferem no andamento do jogo – às vezes sim – mas que podem ser exploradas sempre de maneira opcional, garantindo a maior variedade possível quanto à jogabilidade. Coisas pequenas e bobas, mas que mostram o esmero dos produtores quanto à ambientação do game, como tomar 6 tequilas, ficar bêbado em um bar, discutir com alguém e começar uma pancadaria generalizada, com direito a cadeiras voando, pessoas sendo arremessadas pelas janelas e prostitutas torcendo pelos mais fortes – ou mais endinheirados – no andar de cima. Nada disso é necessário para que a história continue, mas sua simples presença acaba agregando um enorme valor ao game.

Até mesmo as quests do jogo são extremamente variadas. Inicialmente tudo é bem simples, mas bastam algumas horas para que se perceba que uma missão é bem diferente da outra e isso só aumenta com o passar do tempo. E lembre-se que as missões ainda sofrem influência do nível de honra e fama do personagem! Ou seja, temos em mãos inúmeros fatores que podem ou não se misturar, oferecendo uma gama de combinações possíveis imensa. A conclusão é de que o jogo realmente possui muito conteúdo a ser explorado, e se você é um daqueles que gostam de explorar cada faceta de um game, pode ter certeza e que terá trabalho para meses a fio, seja realizando as diversas missões presentes no game ou simplesmente explorando as inúmeras mecânicas inclusas em sua jogabilidade, sejam elas opcionais ou não.

Aproveitar tudo isso sozinho é incrível, mas a experiência pode ficar ainda melhor. O jogador conta ainda com um modo multiplayer bastante completo, apresentando ótimas opções competitivas ou cooperativas. Tudo começa a partir de algo chamado Free Roam, uma espécie de lobby onde todo o mapa do jogo serve como ponto de espera. Esse sistema se assemelha bastante ao apresentado em Burnout: Paradise, onde os jogadores eram livres para trafegar em qualquer parte da cidade, até que algum evento fosse realmente definido pelo ''dono'' da sessão. A diferença é que em Red Dead Redemtpion até 15 jogadores podem participar de uma mesma partida, e isso dá ao game possibilidades absurdas de interação.

Vale lembrar no entanto que o personagem utilizado no Free Roam ou em modos competitivos não é o mesmo presente no modo história. O jogador conta com um personagem novo e persistente, de maneira que todos os status conseguidos em uma partida sejam levados à outra. Assim, o jogador começa no nível mais baixo e contando com apenas um burrinho como montaria. Com o tempo você vai conseguindo mais fama e honra positiva ou negativa, moldando melhor sua influência no game. A parte ruim é que o título não conta com um sistema de customização decente, o que impede o jogador de ter uma identidade visual única durante as partidas. Não será impossível ver em um grupo de 15, 8 ou 9 personagens iguais, principalmente no início.

Entretanto, nos modos competitivos, todos os personagens passam a ter o mesmo nível, de maneira que a jogatina não se torne desequilibrada. E é aí que o bixo realmente pega. Imagine ter um mapa gigantesco, vivo, com uma geografia repleta de acidentes, pronto para um bang bang dos mais frenéticos? São várias as opções de jogo, incluindo o clássico e super divertido deathmatch, e todas oferecem entretenimento sem fim para seus participantes. Como podem ver, uma das grandes especialidades do jogo é oferecer uma grande quantidade de conteúdo ao jogador. Portanto, se você procura por um game que possa jogar por um looongo tempo, então você acabou de encontrá-lo.

Apesar de tantos pontos positivos, nenhum jogo está livre de problemas, e quando o assunto é Rockstar, ela mesmo se encarrega de manter essa tradição. O que queremos dizer é que Red Dead Redemption é muito bom, mas não está livre dos clássicos bugs da empresa. Nós podemos citar alguns, como o vendedor sem mão, o cavalo punk que só ficava com a crina levantada, o cavalo fantasma, que levava o personagem principal para um passeio mesmo sem aparecer e é claro, o bug da missão repetida, onde tivemos que matar alguém que já estava morto. Felizmente, destes somente o último exigiu um reload no último save.

Assim como outros games da empresa, e nisso podemos colocar praticamente toda a série GTA, independente de plataforma, Red Dead Redemption possui mais bugs em sua parte gráfica do que problemas que de fato prejudicam a jogabilidade. Eles existem claro, mas numa freqüência menor até da observada nos demais títulos da empresa. Acreditamos que muita coisa pode ser corrigida por meio de posteriores atualizações, e até entendemos a dificuldade de manter tudo funcionando sem problemas. Estamos falando de um título onde a quantidade de eventos ocorrendo ao mesmo tempo é enorme, junto com a grandiosidade de seu cenário e todas as variáveis possíveis, graças à implementação de mecânicas que valorizam a interação do personagem com o ambiente que o cerca.

E mesmo com esses problemas, Red Dead Redemption consegue se destacar por apresentar um excelente visual. Não estamos nem falando de texturas em altíssima resolução ou modelos repletos de pequenos detalhes, muito pelo contrário. É possível sim ver algumas texturas em resolução mais baixa ou modelos que não são exatamente exemplos de beleza, mas a ambientação do game é imbatível. Os produtores realmente conseguiram criar um universo no estilo western que parece ter vida própria, com inúmeras coisas acontecendo ao mesmo tempo, uma flora e fauna crível e até mesmo uma geografia muito bem construída e dosada. Artisticamente, é um jogo que se destaca pela presença de detalhes considerados desnecessários, mas que estão ali para tornar a experiência cada vez mais imersiva.

E a parte técnica não fica para trás. Ok, temos sim vários bugs, como os já citados, mas temos que dar o braço a torcer para o trabalho que a equipe teve ao construir todo mapa do jogo, que por sua vez possui bastante informação, modelos diversos, criaturas errantes e inúmeras possibilidades de interação. Criar o ''grosso'' da coisa não é o grande X da questão, mas sim a forma com que conseguiram amarrar tudo isso. O resultado é formidável e vai se tornando mais impressionante na medida que o jogador passa a explorar cada faceta presente no game. Nós garantimos que aqueles que comprarem o título terão em suas mãos um dos mais complexos trabalhos de desenvolvimento disponíveis hoje no mundo dos games. Memorável.

E não existe melhor maneira de complementar todo este esforço senão utilizando uma parte sonora igualmente decente. E felizmente é o que acontece. Os efeitos sonoros apresentados no game são bastante competentes e variados, acompanhando a quantidade de criaturas, pessoas e qualquer outra coisa que ''faça barulho'' no game. Na mesma linha seguem as dublagens do jogo, todas muito bem interpretadas e com ótima qualidade, mas o destaque vai mesmo para a trilha sonora do game. Quem já assistiu a filmes antigos de faroeste sabe que existe todo um clima em torno deste tipo de produção e a trilha sonora acaba se mostrando importantíssima neste fato. Em Red Dead Redemption não é diferente. As músicas contribuem imensamente para a ambientação do jogo e também são bastante variadas, adaptando-se aos diferentes eventos oferecidos pelo jogo. Um trabalho realmente excelente do estúdio.

A tarefa de explicar cada faceta presente na jogabilidade de Red Dead Redemption não é uma tarefa simples e é bem provável que nós tenhamos deixado passar um ou outro aspecto do game. Mas não nos culpe. O título possui uma quantidade de conteúdo gigantesca, de maneira que o jogador se sentirá ocupado por um longo tempo. A melhor parte é que todo esse conteúdo é muito bem amarrado e envolto por uma jogabilidade refinada, gráficos bem apresentados e uma trilha sonora de babar. É claro, assim como outros jogos da Rockstar o título apresenta seus bugs, alguns mais simples e outros mais sérios. Mas nada que chegue a apagar a grandiosidade apresentada no produto final. Um título para se degustar aos poucos, e por muito tempo.

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