quarta-feira, 24 de março de 2010

ANALISE: GOD OF WAR 3 PS3



Matar, pilhar e destruir. É difícil acreditar que uma das séries mais brutais já lançadas nos videogames finalmente conseguiu encontrar seu fim. A epopéia de Kratos chega ao final da maneira que os fãs esperavam e queriam: na forma de um jogo memorável. E essa qualidade se dá de inúmeras formas. Memoravelmente brutal, divertido e chocante. O fato é que os membros do Estúdio Santa Monica conseguiram concluir o trabalho de suas vidas, nos oferecendo um dos mais chocantes títulos disponíveis na atual geração de consoles, quiçá de qualquer outra.

Para quem está perdido no meio do mar, aí vai um resumo rápido da história. O primeiro título conta a história de Kratos e sua busca por vingança. Após jurar obediência a Ares, o deus da guerra, Kratos passa a viver uma vida de matanças e conquistas. Mas este poder tem um preço e por engano o guerreiro acaba por destruir sua própria família em um ataque coordenado por Ares. Tomado por uma fúria incontrolável Kratos decide então rebelar-se contra o deus da guerra em uma busca incessante por vingança. Após uma árdua busca, Kratos consegue finalmente destruir Ares, após fazer uso da temida Caixa de Pandora.

Após isso, o guerreiro é então colocado no lugar do deus deposto, tornando-se uma espécie de semi-deus. Mas as coisas estão longe de estarem resolvidas. Kratos descobre que tudo não passou de um plano articulado por Zeus e os demais deuses do panteão grego. Após ser traído, sua busca por vingança toma uma nova forma: destruir os deuses do Olimpo, custe o que custar. E é exatamente no fim do segundo título que iniciam-se os eventos de God of War III. Após uma árdua batalha contra Zeus, Kratos consegue apoio dos Titãs, criaturas existentes desde o início dos tempos e que agora contam com a ajuda do guerreiro na tentativa de retomar o controle do mundo antigo.

Mas não esperem que a história seja somente limitada a isso. Quem jogou os games anteriores sabe que uma das principais características da série é apresentar eventos improváveis, além de grandes surpresas e mudanças repentinas de roteiro, o que torna tudo ainda mais instigante e irresistivelmente interessante. Talvez um dos únicos problemas, se é que isso é realmente um problema, é que a história de God of War III acaba se mostrando muito dividida, com elementos importantes para a trama sendo concentrados em momentos específicos. É uma narrativa perigosa, mas que dá muito certo no jogo. Mas é claro, isso só foi possível graças à jogabilidade impecável apresentada.

Apesar de sua semelhança conceitual com os games anteriores, God of War III consegue inovar à sua maneira, principalmente em relação à parte técnica. É seguro afirmar que o título simplesmente estabeleceu um novo padrão de qualidade em relação a games de ação e isso fica bastante claro logo nos dez primeiros minutos de jogo. Se você jogou os games anteriores da série, verá de cara que o jogo é bastante semelhante em termos de comandos. Aliás, Kratos começa o game inclusive com alguns dos poderes adquiridos no jogo anterior, fato que ajuda o jogador a refrescar um pouco sua memória em relação ao andamento da série até o momento. É claro que tudo isso é feito de uma maneira bastante natural, junto com os eventos que tiram os poderes de Kratos. Ou você achava mesmo que ele seguiria o game com toda a sua força sem ao menos enfrentar algum tipo de dificuldade?

O fato é que a jogabilidade do game é bastante fácil de pegar. Bastam alguns minutos e pequenas tentativas com os botões para que o jogador passe a executar combos mirabolantes e outros tipos de ataque ainda mais devastadores. A existência de novos armamentos, inclusive um substituto para as Lâminas do Caos, arma clássica do personagem, permitiu ainda que os desenvolvedores incluíssem algumas mecânicas inéditas que acabam casando muito bem com as mudanças no título.

Uma delas é a presença de um número bem maior de adversários na tela. Enquanto os títulos anteriores contavam com um número mais reduzido, God of War III consegue manter um número bem maior de modelos na tela. Isso significa que as batalhas ficaram bem mais intensas e perigosas e por conta disso é que algumas mudanças essenciais na jogabilidade foram feitas. Em primeiro lugar, é bom citar que os comandos estão bem mais precisos, de maneira que o jogador possa controlar melhor a direção em que está batendo. Você pode iniciar uma sequência de golpes em uma direção e mudar para outra caso ache necessário ou conveniente. Essa maior liberdade nos comandos permite que Kratos seja ainda mais eficiente no combate, principalmente quando cercado de inimigos. E por falar nisso, prepare-se para investidas ainda mais mortais de seus adversários. Como eles agora vêm em maior quantidade, não são raros os momentos em que um grande grupo deles se junta para tentar impedir o guerreiro de Sparta. Nestes momentos o jogador deve girar rapidamente o analógico, arremessando-os longe em um movimento que mistura fúria e extrema violência.

Outro movimento interessante e inédito é o que Kratos arremessa suas lâminas em direção ao adversário e com a ajuda de suas correntes se joga em cima dele, forçando assim uma ''aproximação'' entre ambos. Como resultado, o adversário é geralmente arremessado para o ar, permitindo que Kratos termine de uma vez por todas com seu sofrimento. Pobre coitado. A eficiência deste ataque fica ainda mais evidente com o uso de simulação de física. Arremessar corpos pelo ar nunca foi tão divertido, mostrando que de fato para toda ação existe uma reação, e neste caso ela se mostra na forma de membros voando pelo cenário ou cabeças rolando pelo chão enquanto outras vítimas pairam pelo ar até aterrissarem e apanharem mais um pouco.

Mas e quanto às novas armas? É importante frisar que elas não estão lá somente para constar, ou para ilustrar de maneira prática partes da história e proporcionar seu bom andamento e resolução de puzzles específicos. Todas são bastante úteis e, à sua maneira, são utilizadas de forma bem específica ao longo das batalhas. Um bom exemplo disso é a possibilidade de criarmos grandes sequências de golpes alternando entre um ou outro equipamento. Ao apertar o botão de defesa e pulo em conjunto, trocamos rapidamente para o próximo equipamento da lista, possibilitando assim a execução de grandes sequências de golpes. Nas mãos de leigos isso representa apenas uma possibilidade dentro do game, mas para os mais habilidosos a existência deste sistema de troca rápida acaba se mostrando uma arma super eficaz, principalmente em níveis de dificuldade superiores.

Outro ponto bacana são as armas secundárias, ou artefatos mágicos. Elas são três no total e obviamente não vamos comentar sobre o seu uso já que isso estragaria algumas surpresas. Mas vamos comentar, por exemplo, o uso da cabeça de Helios, o deus do sol, já que é algo presente não só na demo do game, mas também em inúmeros vídeos. Além de iluminar locais mais escuros, também é possível cegar seus adversários após acumular uma grande quantidade de luz. Para tal, uma terceira barra, além das de HP e Mana, foi introduzida. Cada vez que o jogador faz uso de um destes itens, o conteúdo desta barra reduz um pouco. A boa notícia é que ela se regenera sozinha, o que acabou deixando a jogabilidade ainda mais dinâmica, diferente de God of War II onde o uso delas custava parte do MP. Também é possível combinar seu uso com sequências de golpes, criando assim investidas ainda mais devastadoras, o que torna a variedade de possibilidades e jogadas ainda maior.

Porém o que impressiona de verdade em God of War III não é a quantidade de inimigos e tampouco as novas armas, mas sim o seu senso de escala. Tudo, absolutamente tudo no game é gigante ou grandiosamente colossal. Isso fica evidente nos primeiros minutos de jogo, quando Kratos escala o corpo do colosso Gaia, enquanto combate exércitos de esqueletos. Mesmo durante as lutas, os acontecimentos secundários continuam a ocorrer, como a subida dos demais titãs no monte Olimpo. É realmente impressionante jogar e observar como tudo à sua volta tem vida própria, seja fazendo movimentos de acordo com sua vontade ou simplesmente servindo de plano de fundo para a ação sem precedentes presente no jogo. Talvez a parte mais impressionante do jogo seja a interação de Kratos com o titã Cronus. Muitas vezes o personagem fica diminuto frente ao tamanho do gigante, passando uma sensação assustadora da encrenca que o guerreiro está se metendo.

O design dos cenários também compartilha desta característica. Correntes gigantes, salas de proporções inimagináveis e paisagens intermináveis servem de palco para esta maravilha que se chama God of War III. Um fato interessante é que o game inteiro se passa no monte Olimpo e Kratos ''viaja'' de seu topo ao mais baixo nível da estrutura durante todo o game. O que mais chama a atenção é a forma com que tudo isso é amarrado junto à trama do jogo. Elementos e locais mostrados no início só revelam sua verdadeira natureza nos momentos finais e absolutamente tudo é bem aproveitado. Em termos de variedade é correto dizer que o game fica devendo um pouco à segunda versão da série, mas por outro lado existe um uso muito melhor dos cenários e seus elementos, de maneira que o aproveitamento de cada um dos detalhes e objetos criados pelos desenvolvedores fica bastante evidente conforme o jogador avança na trama.

Em relação à quantidade de conteúdo, God of War III não faz feio. Nós conseguimos terminar o game em um pouco mais de 8 horas de jogatina, mas para explorar todo o cenário e encontrar todos os itens secretos e maximizar suas armas no modo normal leva mais tempo do que isso. Ao terminar, o jogador ainda tem a chance de encarar os Challenges, onde o jogador precisa encarar desafios realmente complexos, a maior parte com um tempo limitado e condições ainda mais restritivas. Caso você consiga terminar todos os desafios, a opção de Combat Arena finalmente fica disponível. Nela o jogador tem a chance de criar uma arena com os adversários que desejar, impondo ou não suas regras e colocando à toda a prova suas habilidades de combate. Tudo pela diversão e brutalidade gratuita, é claro. Para teminar, ainda existe a chance de recomeçarmos o game em um nível de dificuldade já concluído, mas usando os itens especiais dos deuses, tornando a dificuldade do jogo menos impossível, mas não contribuindo para aquisição de troféus. Bem, você não pensava mesmo que ia ser tão fácil, não é?

Artisticamente, God of War III é um verdadeiro primor. O design dos adversários e dos cenários é de cair o queixo e o redesign de Kratos também é bastante agradável e se encaixa com perfeição na premissa de ''semi-deus irado que quer destruir tudo em busca de vingança''. Mas e tecnicamente? Podemos dizer com folgas que o título é facilmente o mais bonito lançado no PlayStation 3 até o momento. Os cenários são hiper detalhados, a ponto de ser difícil encontrar um chão que seja absolutamente liso. Nem mesmo os locais com pisos ou mármores estão livres de realísticas imperfeições naturais de relevo. Isso trouxe uma vida inimaginável ao game, que apesar de possuir um tema totalmente fantástico e irreal, tem sim seu ''quê'' de realismo, ao seu próprio modo, é claro.

É difícil encontrar um destaque frente à complexidade técnica que é o jogo. Os modelos são incrivelmente bem modelados, em especial Kratos, enquanto os cenários contam com tanta informação que muitas vezes dá vontade de deixar a pancadaria de lado só para apreciar o bom trabalho feito pela equipe de desenvolvimento do estúdio Santa Monica. A noção de grandiosidade, já citada com exaustão nesta mesma análise, é sem dúvida uma das maiores conquistas em termos técnicos. É impressionante observar como coisas imensas e outras minúsculas conseguem interagir sem que haja um favorecimento para um ou outro. Em geral tudo é muito detalhado e as texturas do game possuem uma resolução excelente e alta definição, mostrando que o estúdio soube de fato fazer um excelente uso do espaço disponível no disco de Blu-ray. Outro ponto importante é que o jogo é quase que totalmente livre de loadings e a transição entre cenários é extremamente natural. Você avança na história e mal percebe o quão longe já foi, sem que uma única tela de carregamento seja mostrada.

Como bônus e prova deste árduo trabalho é possível assistir a inúmeros vídeos que revelam parte do processo de desenvolvimento de God of War III, todos em alta definição, é claro. É interessante observar como o estúdio trabalha e o tempo que foi necessário para que algumas idéias chegassem à forma vista dentro do jogo, como foi o caso do design de Poseidon, o deus grego dos mares. O pós-processamento do título também sofreu melhorias excepcionais desde suas últimas versões. Os movimentos mais rápidos contam com um sistema de Motion Blur bem realista, tornando as batalhas realmente imersivas e críveis à sua própria maneira.

A iluminação é estonteante, a ponto de ficarmos parados chicoteando nossas armas no ar para simplesmente apreciar os realistas reflexos de luz emitidos nas paredes e demais superfícies, o que acaba evidenciando alguns detalhes antes invisíveis aos nossos olhos. Uma última coisa, desta vez divulgada pelo time de desenvolvimento, é que o jogo não possui ''CGs'', sendo todas as sequências de animação processadas em tempo real. Inicialmente você até duvida de que isso seja possível, dada a incrível quantidade de detalhes e efeitos visuais vistos em alguns momentos, mas basta você interagir com tudo isso e sem perda de qualidade para que a ficha caia e você tenha certeza de que tudo aquilo é real, quer dizer, em tempo real. O som segue esta linha, ficando páreo a páreo com a qualidade gráfica do jogo. As dublagens são excepcionais e Terrence Carson, dublador de Kratos, fez seu trabalho com grande emoção e interpretação. Linda Hunt, dubladora de Gaia, também se destaca, com frases impactantes logo no início do game. As músicas também são orquestradas e o jogador terá contato com versões levemente diferentes de grandes clássicos musicais da série. A diferença citada é notável, mas os fãs certamente reconhecerão a música em si, em uma sensação de gelar a espinha.

Tudo que é bom tem um fim, mesmo que neste fim só sobre o caos. God of War III fecha de maneira triunfal a saga de Kratos, iniciada no PlayStation 2 e encerrada no terceiro console da Sony. Teremos mais Kratos? Infelizmente não podemos responder a essa pergunta. Mas o que realmente importa é que ao terminar o jogo ficamos com aquela sensação de dever cumprido, principalmente após apreciar um final realmente emocionante. O título simplesmente define um novo patamar de qualidade frente aos demais games de ação, oferecendo direção artística impecável, um nível técnico altíssimo e jogabilidade frenética e viciante. A nota máxima não é somente justa, como também obrigatória para um game de sua magnitude. Vida longa ao deus da guerra!

Nenhum comentário:

Postar um comentário