sexta-feira, 26 de março de 2010

MEGAMAN 10 PS3 XBOX360 WII



Quão importante é a parte gráfica de um jogo? Em uma era onde a alta definição tem reinado, chega a ser paradoxal a recente onda de jogos no estilo 8-bit, aqueles com gráficos próximos aos games da era NES e Master System, com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo em termos de evolução e novas tecnologias. Isso acaba dividindo um pouco as pessoas. Há quem considere essa volta ao passado um grande benefício em relação às gerações mais decentes. Afinal, muitos dos que fazem parte da velha guarda dos videogames têm hoje uma visão totalmente distinta do mercado, pelo simples fato de terem acompanhado sua evolução desde que uma linha reta e dois quadrados brancos em um fundo preto representavam uma emocionante partida de tênis.

Apesar deste aparente benefício em relação ao resgate da memória de grandes clássicos, fica a dúvida: será que só os 8-bit realmente importam? O lançamento de "Mega Man 9" foi um verdadeiro presente para entusiastas deste tipo de arte, mostrando que muitas vezes a simplicidade em nada altera a essência de um grande título e muitas vezes serve para enaltecer outras de suas qualidades, como jogabilidade e som, apesar deste último fator também estar ligado ao fator 8 bits, tirando também proveito desta simplicidade. Mesmo assim, muitos chiaram com a iniciativa da Capcom, principalmente por se tratar de um jogo tecnicamente inferior aos demais vendidos nas redes online da Microsoft, Nintendo e Sony e pelo mesmo preço.

Mas nada disso tem importância, afinal, a Capcom provavelmente fará algo mais próximo dos 16-bit com o game que virá a seguir, certo? Errado. Mega Man é uma série das mais consagradas, gerando inúmeras sequências e spin-offs, que acabaram ganhando vida própria ao longo do tempo, como foi o caso de Mega Man X. Mas ao invés de dar deixar a ''homenagem'' de lado e continuar com a série com os recursos que temos hoje, a empresa decidiu mais uma vez apostar nesta tendência 8-bit, com Mega Man 10. Isso acabou tornando o game um daqueles velhos casos de ''oito ou oitenta''. Ou você acha a idéia a mais bacana do mundo, ou simplesmente fecha os olhos, esquece que aquilo aconteceu e corre para outro lado.

Notem que não estamos dizendo que o game é ruim ou qualquer coisa do tipo, muito pelo contrário. Se você ainda acha muito legal que a Capcom tenha feito mais um game no estilo 8-bit, então não tenha dúvidas de que "Mega Man 10" será uma agradabilíssima surpresa, já que algumas coisas e idéias ficaram ainda melhores nesta versão. Mas se você é daqueles cuja filosofia é ''quem vive de passado é museu'', então nem adianta insistir, já que a jogabilidade apesar de boa, não traz absolutamente nada de novo, pelo contrário.

A história de "Mega Man 10" tira a capa de vilão de Dr. Willy e passa para outra fonte maligna: um vírus de computador. Conhecido como Robotenza, o vírus afeta a inteligência artificial dos robôs, fazendo com que máquinas que outrora serviam a humanidade se unam em prol de sua destruição. Assim, o robô azul parte para a batalha, com o objetivo de descobrir a fonte do maligno vírus, além de deter os robôs que já foram infectados, antes que eles destruam tudo aquilo à sua volta. Como era de se esperar, a estrutura do game continua exatamente a mesma. O jogador precisa enfrentar 8 adversários, cada um com seus próprios poderes e fraquezas, para no fim finalmente encarar a derradeira batalha.

E Mega Man não seria Mega Man se o jogador pudesse escolher qualquer adversário e terminar o game na ordem que quiser, não é verdade? É claro, isso não é impossível, mas já é tradição dentro da série a necessidade de descobrir a ordem correta no qual os adversários devem ser encarados, isso porque cada vez que o robô azul derrota alguém, ele consegue absorver seu poder, tornando-se mais forte e ganhando assim um ataque especial extra. Não é de se espantar, por exemplo, que a arma de fogo obtida de Solar Man seja extremamente eficiente contra Chill Man, adversário cujos ataques são baseados no gelo. Resta a você descobrir qual a melhor maneira de começar o game e partir para a luta.

Apesar da semelhança gráfica óbvia, o décimo capítulo possui algumas diferenças significativas em relação ao título anterior da série. A primeira é a possibilidade de escolhermos jogar com Mega Man ou Protoman, logo de início (desta vez o conteúdo extra está reservado para o personagem Bass). Isso possibilita que a dificuldade do game seja melhor dosada já que Protoman possui mais habilidades de defesa e esquiva que seu irmão azulado. A segunda diferença está relacionada ao sistema de desafios do jogo. Desta vez temos dois tipos. No primeiro o jogador tem acesso a estágios específicos, cada um com uma espécie de missão, geralmente ligada a elementos da jogabilidade. As primeiras, por exemplo, pedem que o jogador atravesse um cenário tendo o máximo de precisão em seus pulos, mas as exigências vão ficando mais complexas conforme se avança neste modo.

Já o segundo tipo está relacionado a feitios do jogador ao longo do game. Eles podem ser comparados aos Achievements/Trophies do Xbox 360 e PlayStation 3, que possuem suas respectivas recompensas nesta versão ("Mega Man 9" não teve Trophies no PS3), respectivamente. Como o Wii não possui um sistema nativo de recompensa, a presença destes Challenges acabou por suprir esta carência, mesmo que tornando-se algo redundante nos demais consoles senão o da Nintendo. Isso contribuiu também em relação à longevidade do game. Ok, "Mega Man 10" não é um jogo exatamente fácil – falaremos disso adiante – mas é inegável que quanto mais conteúdo, maior valor é agregado ao produto, principalmente um game que, tecnicamente, não é exatamente a grande maravilha do mundo dos games em 2010.

Então, conforme prometido, vamos falar da dificuldade do game. "Mega Man 10" acabou se mostrando um pouco mais difícil que o novo game da série, principalmente para aqueles que gostariam – pobres criaturas – de conseguir todos os achievements/trophies/challenges possíveis. Mas a Capcom decidiu tornar o jogo mais fácil para as massas menos favorecidas em habilidade, adicionando um modo Easy. Acredite, você não vai querer este modo. O título fica tão mais fácil que a jogatina acaba se tornando sem graça em alguns momentos. Já imaginou ter que atravessar cenários cheios de espinho, onde um toque sequer significa morte instantânea, só que com uma ponte? A jogabilidade é totalmente banalizada neste modo, e o sentido de se lançar um jogo assim se perde por completo. É claro, trata-se de uma opção e ninguém é obrigado a usá-la. Mas neste caso trata-se quase de uma tradição, e romper tradições dá sete anos de azar. Toc toc toc.

Até agora, a impressão do game é das melhores certo? Você não está enganado. O jogo é bacana sim, é desafiante, tem conteúdo de sobra... mas ainda assim fica aquela impressão estranha de que estamos em um encontro com uma mulher super divertida, inteligente, que entende o que você diz e joga videogame como ninguém. Ela também curte tudo o que você gosta, topa qualquer parada... só que apesar destas qualidades, você está saindo com a Dercy Gonçalves, com exceção de todos os palavrões. Ou não. Talvez ela fosse uma gatinha anos atrás, mas hoje em dia ela envelheceu e seu visual não é lá essas coisas. Talvez seja bacana reviver este tempo e dar umas voltas com a Dercy no shopping, gastando sua grana com lanches e cinema. Mas a Dercy envelheceu, e infelizmente o tempo não volta mais.

Ter isso em mente é saber que "Mega Man 10" não é um jogo que agradará a todos. Conforme comentamos no início, trata-se de um típico caso de oito ou oitenta. Muita gente vai gostar, pelos motivos que já citamos, mas não dá para dizer que os que acham a idéia ruim estão totalmente errados. O design das fases continua bastante inspirado, dando aquela impressão de que as coisas se encaixam magicamente, e realmente é o que acontece. Sem contar que algumas cenas são nitidamente impossíveis de serem reproduzidas no Nes, principalmente nas cutscenes. Sendo assim, se você é entusiasta deste tipo de arte, saiba que terá um prato cheio em suas mãos.

O som também se encaixa neste aspecto. Da mesma forma que os gráficos foram criados usando recursos primários, temos uma parte sonora bastante simples em termos técnicos. As músicas são compostas por trilhas MIDI de pouquíssimos canais, e quem acompanhou a velha guarda dos games sabe exatamente o que isso significa. O mesmo vale para os efeitos sonoros, todos digitalizados, mas com a mesma qualidade de antigamente. As composições em si são boas, algumas viciantes, enquanto outras são estressantes e extremamente repetitivas, como a que toca na parte de challenges. Se bem que esta talvez sofra de um repúdio psicológico, justamente por tocar em uma das partes mais difíceis e irritantes do game.

"Mega Man 10" é uma homenagem e tanto aos 8-bit, sobretudo aos fãs da série que curtiram os primeiro games na década de 80/90. Mas será que uma homenagem, no caso "Mega Man 9", já não teria sido o bastante? É claro, existem fãs do estilo gráfico, mas fica a dúvida se a série não deveria finalmente evoluir e nos apresentar algo inovador, e não uma receita de bolo que já está para vencer. Levando isso em conta, temos duas linhas de pensamento distintas: Se você gosta da série, da jogabilidade e do visual retro, então "Mega Man 10" será um prato cheio. Mas se você já olhava para "Mega Man 9" com fogo nos olhos, então nem pense nesse. Não é um jogo que agrada a grego e troianos.

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