terça-feira, 27 de abril de 2010

ANALISE: FAT PRINCESS PSP PS3



Quando lançado no PlayStation 3, ano passado, ''Fat Princess'' gerou certa confusão e polêmica. De um lado, ativistas e feministas atacavam o game por sua premissa, enquanto de outro vinham aqueles que pensavam ''Ah, não tem nada a ver isso aí!''. Contudo, o game se provou, realmente, nada mais do que uma diversão, principalmente em seu modo online, dispersando todos os problemas a respeito. O sucesso acabou por empolgar a produtora, que já planejava uma versão do título para o PSP. Mas, a polêmica – que acabou se tornando marketing – nem é tão sem fundamento assim.

Todos sabemos. Comer muito engorda, já diziam as nossas avós. Não venha negar e dizer que você não gosta de um suculento bolo com cobertura de marshmallow ou um recheio de chocolate. Ou melhor, que tal uma barra de chocolate inteira, ou um saco de balas de caramelo, doce de leite, balinhas de coco daquelas distribuídas em festas e feirinhas regionais? Por mais controlada que a pessoa seja, a boca quase sempre fala mais alto, quase que literalmente. Engordar é um problema sério, não no sentido pejorativo da coisa, mas pode contribuir para complicações na saúde da pessoa em um futuro próximo, principalmente se ela ainda for jovem, na casa dos 20 anos. O mundo do século XXI prega a boa saúde, a sustentabilidade, o consumo com sabedoria. Mas o que acontece quando um jogo chega e vai contra tudo o que os bons costumes modernos propagam, dando destaque para a engorda pura e simples de uma jovem donzela? A polêmica é certa, mas a diversão também.

Seguindo os passos do original, Fat Princess: Fistful of Cake, desta vez para o PSP, também teve sua venda realizada via disco UMD, além da PlayStation Network. O game vem com quase todo o conteúdo de seu irmão no console, mas também com muita coisa extra, para compensar pequenos cortes.

A história de Fat Princess baseada exatamente no conceito clássico medieval de conflito entre dois reinos. O mote principal aqui é a chegada de um nobre príncipe que pedirá a mão de uma princesa em casamento. O problema é que isso gerou uma baita rixa entre os reinos azul e vermelho. Com isso, os reis de cada castelo bolaram um ''plano infalível'', de um tipo pior do que aqueles bolados pelo Cebolinha, para prejudicar a princesa adversária, a ponto de o príncipe desistir de ficar com ela. O plano é muito simples, basta engordar a coitada com uma infinidade de bolos que... brotam do chão. Obviamente isso deve ser feito após o rapto da dita cuja. A ideia é mantê-la presa no calabouço do seu castelo e ir alimentado a coitadinha, a ponto de deixá-la cada vez mais gordinha, tornando-a assim automaticamente pesada para um possível resgate do reino adversário. Lindo, não? Poético até. A única diferença na versão do PSP é contar com um tipo de prólogo, onde as princesas foram raptadas por monstrinhos da floresta, e, claro, precisam ser resgatadas.

Contada a história, é meio caminho andado. Afinal, você já sabe do que precisa para sobreviver – literalmente – durante as partidas. Seu reino está em guerra com o vizinho, logo, isso te torna adversário ferrenho deles. Por sua vez, isso meio que define a jogabilidade do game como um todo, já que o básico é guerrear contra o exército do outro lado. Mas como fazer isso? Fat Princess simplifica as coisas e transforma um jogo que seria oficialmente de estratégia em tempo real em um game de ação frenética, delegando o controle de um soldado para cada jogador dentro das partidas. Você controla um pequeno soldado de um reino – azul ou vermelho – que começa, na verdade, como um frágil cidadão comum e, por isso, você está dentro de seu castelo e de mãos vazias. Você não pode partir para a batalha dessa forma, ainda mais que seu pequeno bonequinho tem apenas dois corações, que representam seus pontos de vida, o que te deixa vulnerável a apenas um ataque para a morte certa. Para que isso não ocorra, você precisa coletar um dos chapéus – gerados através da máquina de chapéus (oh, que nome criativo) – e definir sua profissão inicial.

As profissões são o coração da jogabilidade. O ''aldeão'' não se caracteriza como uma, já que é seu estado inicial. As cinco profissões são mais simples e clássicas o possível: mage (mago), priest (sacerdote, ou ''mago de cura''), warrior (guerreiro), worker (trabalhador) e rangers (patrulhadores, ou, se preferir, arqueiros). Ao coletar um chapéu, com o botão bola, seu personagem automaticamente veste a roupa da profissão escolhida e pode utilizar suas habilidades. Cada um tem uma funcionalidade diferente no campo de batalha, mas, para equilibrar as coisas, todas elas podem servir como classe de ataque. Todas possuem um nível avançado de habilidade, que iremos detalhar mais abaixo. Além disso, elas possuem um tipo de ataque carregado, que pode ser ativado ao segurar o botão quadrado (o mesmo usado para o ataque normal).

O worker pode ser sua classe de escolha inicial, pois é do trabalhador a tarefa de construir as primeiras defesas do castelo (portões e derivados), além de realizar um upgrade nas estruturas internas, as máquinas de chapéu. Com um upgrade, as máquinas passam a produzir chapéus avançados, com uma habilidade secundária, por isso é muito importante que existam pelo menos alguns trabalhadores encarregados de tais upgrades. Cada estrutura exige determinado número de matéria-prima, que pode ser metal e/ou madeira, com isso, o trabalhador fica encarregado de ir ao campo de batalha cortar árvores para recolher madeira e minerar em rochas especiais para coletar metal. O mais legal é que tudo isso é manual! Você não poderá simplesmente mandar seu personagem realizar o trabalho e esperar que ele recolha e traga todo o material para o castelo. Você irá controlá-lo em todas as etapas do trabalho, como utilizar o botão de ataque para bater na árvore, por exemplo. Pode parecer chato, mas o jogo faz com que você veja seu trabalho em andamento, valorizando todo o esforço empreendido na produção. Por conta disso, o worker é uma das classes favoritas daqui da redação, e uma das mais indicadas para os jogadores iniciantes, por treinar o exercício de paciência e continuidade em um trabalho. Apesar de não ser muito resistente a golpes, ele é interessante e seu nível avançado faz com que ele use também uma bomba, ao invés de somente um machado. Mas não pense você que ele pode ser a única profissão legal de todo o jogo, já que todas, como dissemos, são equilibradas.

Warrior é a profissão mais básica, sem muitos mistérios, mas também uma excelente classe de ataque. Seus golpes são poderosos e rápidos e ele é o personagem que possui mais energia em relação aos seus colegas de equipe. Ele pode também bloquear flechas e projéteis com seu escudo. Seu nível avançado concede uma arma extra, um tipo de alabarda com ponta esticada. É, sem dúvida, uma ótima escolha para a linha de frente. Enquanto isso, o ranger, como não poderia deixar de ser, é a opção perfeita para quem gosta de ficar ''camperando'', atirando de longe nos adversários sem ser atingido. A princípio ele usa apenas arco e flecha, mas seu avanço de classe permite utilizar uma poderosa arcabuz, tipo de arma de fogo rústica, com uso explosivo de pólvora. O mago, como denunciado pelo nome, é o personagem para quem deseja dar uma de Gandalf no campo de batalha, usando e abusando das magias. A profissão, inicialmente, utiliza ataques de fogo, determinados entre uma simples rajada na direção do inimigo ou uma explosão ao redor do personagem que queima os inimigos próximos. Sua versão avançada permite mudar para uma instância de gelo, com o mesmo tipo de ataque, mas com efeito diferente (neste caso, para congelar os adversários). Outra classe interessante é o priest, que basicamente serve de apoio aos colegas de equipe. Ele fuciona de forma muito similar ao Medic, do jogo ''Team Fortress 2''. É muito comum você encontrar um guerreiro sendo seguido por um sacerdote, já que sua habilidade principal lança um raio contínuo no aliado para curá-lo enquanto ele apanhar dos inimigos, sendo possível também curar um número grande de colegas com o golpe carregado. Sua variação transforma-o em um tipo de Dark Priest, ou sacerdote sombrio, que funciona com os mesmos golpes, mas ao contrário, sugando a energia de um ou mais adversários.

Cada upgrade de classe faz com que apareçam também novos itens em todo o cenário. O mage e o priest, por exemplo, fazem com que poções mágicas que transformam pessoas em galinhas possam ser usadas pelo time. O worker faz com que apareçam poderosas bombas em seu castelo, que podem ser carregadas por qualquer pessoa. Warrior e ranger ganham a opção de atear fogo em suas armas para aplicar mais dano em seus golpes, como flechas de fogo ou labaredas em uma afiada lâmina. Só essas variações já deixam a jogabilidade do título com tantas opções de ataque que você fica até em dúvida na hora de escolher sua profissão favorita.

Os combates em ''Fat Princess: Fistful of Cake'' são básicos e os comandos funcionam da mesma forma para todas as profissões. Move-se o personagem pelo disco análogico, enquanto quadrado ativa o ataque, triângulo modifica sua profissão para a habilidade secundária, bola carrega objetos e chapéus, X fica responsável por ativar o pulo. É possível solicitar ajuda de amigos próximos apertando o botão direcional digital para cima. Não quer mais ajuda? Aperte o direcional digital para baixo. Os digitais para os lados funcionam apenas como provocações, onde seu personagem profere algumas palavras ''marotas'' para os adversários.

Tudo muito simples e eficaz para o desenrolar dos combates nos mapas, que por sua vez são criativos e também variados. Aliás, esta edição portátil conta com seis novos mapas, e cada um é diferente do outro, com diferentes localizações de recursos, caminhos e até atalhos. Todos possuem características próprias, como locais a serem construídas estruturas (escadas, pontes, e outras variedades), além de ''macetinhos'' para eliminar inimigos ou invadir o castelo adversário. Fica a seu critério a melhor forma de bolar um ataque ou uma jogada, já que o leque de opções é grande.

Como o multiplayer online mão é um dos fortes do PSP, um portátil onde se prioriza a experiência single player, ''Fistful of Cake'' um modo extenso para um jogador chamado de ''A Lenda da Princesa Gorda'' (em português mesmo, o jogo possui esta opção), se resumindo a contar a história principal da saga, já detalhada mais acima em nossa análise. Aqui, cada capítulo da história envolve um tipo de missão, contando inclusive com novas missões em relação à versão de console. Em determinado capítulo, será necessário capturar sábios do reino que estão perdidos pelo mapa. Em outro, será preciso recolher mais recursos do que seus inimigos, para construir uma forte torre antes do exército adversário.

Assim, indo em direção contrária à versão do PS3, o game tem seu foco no modo para um jogador. As partidas single player suportam 24 personagens, enquanto o multiplayer (online ou local) é possível para até 16 jogadores simultâneos. Os modos single player foram um pouco limitados. O ''Soccer'', por exemplo, divertida modalidade dos consoles onde os personagens se matavam em uma sangrenta partida de futebol, foi limado. De resto, modos como ''Gladiator'' e ''Skirmish'' estão presentes.

O modo principal, ''Capture the Fat'' é onde você deve invadir o castelo adversário para resgatar a sua princesa capturada e tentar manter a princesa do outro time presa em seu castelo. Para isso a estratégia é fundamental e a divisão de tarefas em um time deve ser de bom tamanho para todos. Por exemplo, se todo mundo resolver ser guerreiro, o castelo ficará desprotegido e sem recursos, pois não há trabalhadores cuidando dos upgrades de estruturas e das defesas. É aconselhável ficar de olho na princesa, já que ela engorda a medida que um personagem dá um bolo para ela, deixando-a mais pesada, mas o contrário também ocorre. Quando ela fica muito tempo sem comer, emagrece, o que faz com que ela seja extremamente leve e de fácil resgate.

O modo online funciona bem, nos termos principais, basicamente porque o jogo faz com que sempre existam o máximo de personagens ao todo em uma partida. Necessariamente não é preciso que cada um seja um jogador humano. A sala é composta de bots, personagens controlados pelo computador, que dão lugar a um jogador real quando este entra na partida. O único problema fica pela ausência de um tempo limite para as partidas, repetindo um erro visto na versão de console. Assim, como embate pode durar até mesmo mais de uma hora, se estiver tudo bem disputado, deixando as coisas um pouco enfadonhas. Contudo, gente para jogar é o que não falta.

O visual de Fat Princess: Fistful of Cake repete com fidelidade o que foi visto no PlayStation 3, mas com uma leve diminuída na resolução. Poucos irão reparar, mas efeitos como fogo, texturas dos castelos e outros pequenos detalhes estão um pouco mais feios. Além disso, os personagens, obviamente, encontram-se mais serrilhados por conta desta resolução menor. Para quem estava acostumado com o game em 1080p no PlayStation 3, a diferença será grande, mas não é algo que irá comprometer a experiência da jogabilidade. Não é nem mesmo grosseiro aos olhos, é apenas o mesmo jogo, com gráficos extremamente similares, mas com menor resolução.

De resto, a arte continua com a mesma direção. Não se engane com a aparência bonitinha e fofa, com vozes engraçadinhas. Graças aos combates no campo de batalha, você verá muito sangue, braço voando, bonecos sem membros, tudo para fazer um certo contraste com o visual ''infantil''. Não que isso seja ruim, pelo contrário, o efeito chega a ser hilário, já que todos os soldados são diminutos, com aquele estilo cabeção (ou SD, super-deformed), mas com uma carinha de mau que assusta qualquer bicho-papão. A princesa é outra fofura, literalmente, quando fica gordinha, com bochechas infladas e perninhas esticadas. Fat Princess também não faz feio na parte sonora. Além das vozes, engraçadinhas e bem boladas (em diversos idiomas), o jogo conta com uma trilha sonora simples, porém eficiente e longe de ser irritante. Os efeitos especiais das batalhas também são de bom grado.

Quando sua versão original foi anunciada, Fat Princess logo despertou interesse pelo seu visual cartunesco e infantil, mas misturado a belas cenas de violência à medida que os combates se desenrolavam. Entretanto, o game não é apenas o que o seu visual representa. Sua jogabilidade é divertida até dizer chega e esta versão para o PSP vem com um modo offline bem extenso e variado para os jogadores solitários, com suporte para até 24 personagens em uma batalha. O modo online, também consistente, aguenta até 16 jogadores e está bem povoado. O maior problema do jogo continua sendo a ausência de um contador para as partidas, o que pode torná-las por demasiado longas. De resto, o conceito por trás do jogo é interessante e bem curioso, já que engordar uma princesa chega até a ser um tanto quanto politicamente incorreto nos dias de hoje, onde a sociedade acertadamente preza pela saúde e bem estar.

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