terça-feira, 27 de abril de 2010

ANALISE: SPLINTER CELL: CONVICTION XBOX360 PC



A série Splinter Cell foi sempre rodeada de muita falação. Enquanto os fãs de Sam Fisher declaravam o game como a experiência definitiva em termos de ação furtiva, o resto discordava com veemência, citando inúmeros argumentos e fazendo até mesmo comparações, como a inevitável com Metal Gear Solid. O fato é que o game foi crescendo e ganhando importância, tomando uma forma mais concreta e aumentando ainda mais sua base de fãs. Apesar disso, Splinter Cell sempre pecou em um aspecto muito importante: sua história. Sam Fisher nunca recebeu o destaque merecido, chegando ao cúmulo de ser coadjuvante de seu próprio game, dada a falta de atenção ao personagem e a trama que o envolvia.

Mas todos merecem uma chance e a Ubisoft resolveu agarrar a oportunidade e lançar no mercado uma versão definitiva do game, mesmo que tardiamente. Tom Clancy's Splinter Cell: Conviction chega para se redimir de uma vez por todos os problemas presentes nos games anteriores, e um deles é justamente a narrativa empregada. Desta vez os produtores decidiram dar uma ênfase muito maior à história e não tanto a jogabilidade. Alguns problemas surgiram por conta desta decisão, mas não dá para fazer uma boa omelete sem quebrar alguns ovos. O fato é que o título chega ao seu ápice, combinando o melhor da ação furtiva com um personagem que, até que enfim, atua com real carisma.

A história de Conviction mostra um Sam Fisher muito diferente do visto nos games anteriores. Sai a indumentária de agente secreto super habilidoso e entra um homem preocupado com a própria vida, sem qualquer interesse no que o governo tem ou não feito em relação à proteção de sua nação. A trama ficou tão bem elaborada que é necessário que o jogador conheça bem os acontecimentos dos títulos anteriores, já que estes são amarrados de maneira bastante criativa, criando assim uma narrativa complexa e bastante atraente para os fãs da temática. Some a tudo isso diálogos interessantes e uma atitude mais ''badass'' para Fisher e terá em mãos aquilo que Splinter Cell deveria ter sido desde sua primeira versão.

E não foi só a história que ganhou um bom update. A Ubisoft conseguiu tornar a jogabilidade menos travada e muito mais dinâmica, usando muitas vezes a própria história como base para estas mudanças. Como um cidadão normal – ok, não tão normal – Fisher começa o game totalmente sem recursos, contando somente com sua pistola de estimação. Os mecanismos de furtividade são bem rústicos, o que acabou tornando o game mais interessante e desafiador. Diferente do que acontecia em outros games da série, todas as vezes que o personagem estiver escondido pelas sombras, a tela fica em preto e branco, com exceção de seus adversários.

A mecânica é interessante e funciona muito bem, além de ser um pouco mais realista do que era visto antes, onde os equipamentos de Sam Fisher brilhavam como um semáforo, mas ainda assim nenhum adversário conseguia enxergá-los, simplesmente porque o jogo considerava que o personagem estava devidamente escondido. A coisa aqui ficou um pouco mais complexa e qualquer movimento pode chamar a atenção de seus adversários, colocando todo o disfarce por água abaixo. Por outro lado, os ajustes feitos na inteligência artificial permitem que o jogador faça seus movimentos de maneira mais estratégica, tirando proveito dos elementos que o cercam, suprindo assim sua falta de equipamentos especiais.

Podemos citar como exemplo o uso criativo da pistola com silenciador. Como existe a supressão do ruído de disparo, a tendência é que os adversários se virem para onde Fisher acertou com sua arma. Quebrar uma vidraça na direção contrária à sua pode ser a saída perfeita em uma situação onde os adversários estão prestes a encontrá-lo, ou simplesmente na hora de chamar a atenção para outra direção, enquanto você dá cabo de outro adversários mais próximo. É claro, o inverso também pode acontecer, então nem pense em errar seu disparo na hora de executar um adversário ou sua posição será facilmente revelada.

Nestes casos, os produtores conseguiram criar um sistema interessante. Todas as vezes que o personagem é visto por alguém, uma sombra é automaticamente criada, mostrando ao jogador qual foi o último lugar onde seus inimigos o avistaram. Esta é a deixa perfeita para que você troque de posição, confundindo seus adversários e adotando uma estratégia mais evasiva. É certo dizer que a inteligência artificial ainda dá as suas mancadas de vez em quando, mas desta vez a reação de seus adversários é um pouco mais realista, o que acaba contribuindo para a jogabilidade como um todo.

Ainda assim, o agente acaba ficando um pouco na desvantagem se compararmos com o aparato tecnológico presente nos games anteriores. Pensando em equilibrar um pouco isso a Ubisoft acabou por acrescentar o sistema de mira automática, o que acaba tornando as coisas um pouco mais simples em momentos onde a esperança está próxima de fugir. O termo "mira automática" pode trazer desconfiança, mas o seu funcionamento é bastante justo. Todas as vezes que o jogador executa um assassinato por proximidade, isto é, utilizando um movimento letal ao se aproximar do adversário, ele ganha a chance de usar o sistema. Para isso, basta marcar os adversários que serão eliminados e pressionar o botão Y para que o trabalho seja feito. Existe um limite de marcações que varia de arma para arma, naturalmente algo ligado à rapidez do seu manejo e a eficiência de seus disparos. Além disso, o jogador não pode acumular este movimento, o que significa que após o seu uso ele terá que assassinar novamente outro adversário de perto. Excelente para os momentos de maior desespero.

Felizmente esta onda de pobreza em termos de equipamento vai ficando para trás na medida em que avançamos a história. Para isso, Fisher conta com uma espécie de baú com armas, encontrado em pontos específicos do mapa. O sistema funciona como o visto em Resident Evil. Neste baú é possível não só recarregar suas armas e trocar por novas, como também efetuar upgrades específicos para cada um de seus equipamentos. O pulo do gato está na maneira com que o jogador faz estes upgrades. Cada um deles requer uma quantidade específica de pontos, como 250 pontos para aumentar a precisão de sua pistola ou 500 para adicionar a supressão de ruído em uma sub-metralhadora. Mas como adquirimos estes pontos?

Esta é sem dúvidas uma das coisas que tornaram a jogabilidade ainda mais interessante. Para conseguir tais pontos é necessário que algumas ações especiais sejam efetuadas ao longo da história. Matar cinco adversários seguidos sem ser detectado garante uma quantidade específica de pontos. Conseguir 20 stealth kills garante uma quantidade ainda maior. Isso significa que você só consegue novas armas e melhores upgrades caso você seja realmente bom durante o game, executando ações relevantes como agente secreto. Um sistema justo que premia o jogador pela sua habilidade, incentivando-o a estudar melhor seus movimentos no lugar de simplesmente correr e matar tudo e todos sem qualquer critério.

Outro mecanismo inédito é o de interrogatório. Em alguns momentos específicos do game, Sam Fisher precisa... extrair informações de seus adversários. Isso está presente na série desde a sua primeira versão, mas podemos dizer que nesta o agente chutou o balde. Fisher agora usa todo o ambiente como ''ferramenta'' para a sessão de interrogatório. Isso quer dizer que, se o espertinho não quiser cooperar, basta enfiar sua cabeça naquela TV velha que está no canto, ou bater o seu rosto contra a pia, ou melhor, afundar seu crânio em um mictório sujo. Use a imaginação e ele cooperará como se fosse o seu melhor amigo.

O título possui muitas coisas bacanas, uma história finalmente atraente e o melhor, Sam Fisher mais carismático e humano do que nunca. O grande problema é que a duração de tudo isso é muito menor do que se imagina. A trama principal não dura mais do que cinco horas no nível de dificuldade normal durante a primeira tentativa. Se a sua intenção é jogar novamente para conseguir todos os extras, então levará um tempo um pouco maior, mas de uma maneira mais previsível. Acaba que a longevidade do título fica totalmente ligada à forma com que o jogador aprecia o game. Dentre os incentivos para uma segunda jogada estão os P.E.C. Challenges, sistema que contabiliza os pontos usados na troca de upgrades em suas armas. O sistema é interessante e funciona em conjunto com o modo Deniable Ops –que será comentado a seguir – mas pode ser que a mecânica não seja o suficiente para incentivar o jogador a tentar novamente, mas a oportunidade está lá, para quem quiser.

Falemos então do modo Deniable Ops. Ele funciona de uma maneira bastante semelhante à do Spec Ops de Modern Warfare 2. Nele o jogador tem a chance de passar por um bom número de desafios, variando entre os modos Hunter, Infiltration e Last Stand. No primeiro o jogador precisa caçar todos os adversários do estágio, enquanto Infiltration repete esta mesma receita, mas com a inclusão de lasers invisíveis que, se tocados, resultam no término imediato da missão e também na morte do seu personagem. Já no modo Last Stand o jogador precisa defender um ponto durante determinado tempo, jogabilidade clássica e batida para qualquer multiplayer, mas que ganha vida nova com os recursos apresentados no game. Esta é sem dúvidas uma excelente maneira de aproveitar melhor o game, já que toda a habilidade adquirida durante a história principal pode ser colocada em prática aqui. A idéia é justamente oferecer a oportunidade de jogar algo mais descompromissado, aproveitando todas as principais mecânicas presentes no game.

O multiplayer vem como complemento disso tudo, permitindo que embates realmente competitivos aconteçam tanto localmente quanto por meio da Xbox Live. O modo cooperativo recebe atenção especial por possuir uma história própria, contando alguns acontecimentos anteriores à trama single player. Podemos dizer que o cooperativo é realmente genial e facilmente uma das partes mais gostosas de se jogar dentro do game. É essencial que os participantes se ajudem da melhor forma, se possível fazendo o uso do headset do console. A comunicação neste caso é essencial, mostrando-se uma ferramenta utilíssima durante a jogatina. Existe outra razão para que a cooperação entre os jogadores seja intensa. Caso alguém morra, a missão é automaticamente cancelada, obrigando os participantes a começarem tudo novamente. Uma escolha difícil, mas que exige habilidade mútua e no fim a receita deu muito certo.

A parte gráfica inova de inúmeras formas, mas surpreende ao pecar em coisa tremendamente simples. A primeira coisa que chama a atenção é o uso do próprio cenário como interface. Todas as vezes que o jogador precisa de alguma informação vital, como seu objetivo na atual missão, ele é projetado em algum lugar do cenário. O efeito é bastante agradável aos olhos, além de representar uma forma inovadora de interagir com o usuário sem tirar sua atenção do que está acontecendo no momento. Por outro lado, temo a questão do modo stealth. Conforme comentamos, todas as vezes que o personagem está escondido, a tela fica automaticamente em preto e branco. Esta foi sem dúvidas uma forma simples de tornar o efeito mais realista, já que as luzes do personagem ficam ''apagadas'', tirando aquela impressão de que ele é um semáforo invisível.

O que talvez os produtores não pensaram é que, se você é um excelente jogador, e o jogo te presenteia por isso, boa parte do game ficará em preto e branco. É claro, alguns momentos do game tornam impossível a façanha de sumir nas sombras, dada a iluminação e outros fatores, mas o fato é que diferente do que alguns imaginavam, cerca de 80% do game prioriza a ação stealth, e isso inclui o modo Deniable Ops e o Cooperativo. Isso significa que, quanto melhor você for, menos cores você verá. Alguns não vão ligar para a idéia, enquanto outros até vão gostar. Mas não culpamos aqueles que se sentirem incomodados por deixarem de apreciar o trabalho de textura e iluminação criado pelos produtores em sua totalidade. Soa como se estivéssemos perdendo algo.

E por falar em textura e iluminação, o trabalho técnico da equipe de desenvolvimento foi realmente muito bom. Os gráficos do título estão mais realistas e o que mais se nota é a melhora em relação ao character design, considerado feio nas tentativas anteriores. O trabalho de iluminação está ainda mais realista, mas já não possui aquele impacto mostrado nos games anteriores. Ainda assim, é notável o trabalho feito sobretudo nas sombras, que não estão serrilhadas, além de estarem bastante suaves na interação com outros objetos, técnica chamada de soft shadow. Os demais efeitos, como de partículas e simulação de relevo nos objetos do cenário, fazem muito bem o seu papel, criando uma atmosfera crível e mais voltada para o realismo. O único pecado neste quesito fica por conta da animação facial de alguns personagens, que não é lá convincente. Mas o conjunto da obra acaba falando mais alto.

Já na parte sonora, temos a volta do excelente elenco de dublagem, presente desde os primórdios da série. Neste quesito, Splinter Cell nunca deu bola fora e desta vez não foi diferente. A interpretação dos atores é primorosa e cheia de eloqüência, dosando a emoção na medida certa, sem parecer forçado. O resultado final, como era de se esperar, supera as expectativas. Os efeitos sonoros também se destacaram ao longo da série, e também mostram sua qualidade aqui. Barulhos de tiro são bem convincentes, e o uso de um bom sistema surround acaba influenciando de maneira positiva na jogabilidade, permitindo que o jogador tenha um feedback sonoro da posição e ações efetuadas por seus adversários. Some a tudo isso uma trilha sonora matadora e terá uma noção do porque estamos fazendo tantos elogios a este aspecto técnico do game.

Splinter Cell: Conviction chega aos finalmentes fazendo aquilo que já deveria ter feito a tempos: apresentar uma história imersiva, com uma narrativa dinâmica, ótimos diálogos entre personagens e uma carga emocional convincente. Sam Fisher nunca esteve tão carismático, a ponto do jogador se compadecer com sua situação e se sentir tocado pelos eventos que envolvem o passado do ex-agente da Echelon. O jogo não é perfeito, e possui sim seus problemas, mas o conjunto da obra não deixa nada a desejar. Não dá para dizer que este é o último game da série, mas se a investida continuar, que a qualidade siga este novo padrão.

2 comentários:

  1. Análise incrível!
    Comprei o jogo para xbox360 após jogar o demo no mesmo,adorei o estilo stealth!
    Pena q esse é o primeiro dessa série q jogarei e n conheço muito a história dos personagens.
    Mas acho q valeu muito a pena a compra!
    Abraços!

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